A COR DA SAUDADE = EC
Qual é a cor da saudade?
Já vai longe, mas está viva em minha lembrança e minha saudade, aquela manhã chuvosa e fria.
Não que a chuva ou o frio tivessem alguma importância, mas ficaram compondo o cenário que ficou gravado em minha alma indelevelmente.
Eu tinha treze anos. Estava naquela idade-ponte entre a infância e a adolescência e era a mais nova na minha classe.
Nessa idade, um ou dois anos fazem bastante diferença. Minhas colegas já eram mocinhas e já tinham seus namorados. Namoricos inocentes, mais imaginários do que reais e eu começava a descobrir que os meninos não eram tão chatos nem antipáticos como eu pensava. Não puxavam mais o meu cabelo nem chutavam para longe a bola que eu estava jogando, olhavam para mim com uma expressão diferente que eu ainda não sabia analisar e, pensando bem, eram até muito interessantes.
Naquela manhã assistíamos a uma aula de matemática do professor Anibal.
As meninas ocupavam as carteiras da frente e os rapazes as do fundo e estávamos todos concentrados procurando resolver um problema, quando Angelina que sentava atrás de mim, cutucou-me de leve e sussurrou:
— Terezinha, o Eurípedes disse que quer namorar você.
Olhei para traz, ele sorriu, o mais belo sorriso que vi em toda minha vida,
Seu Anibal percebeu o movimento, levantou os olhos por sobre os óculos e nem precisou dizer nada e eu voltei-me depressa com o coração disparado, fingindo que me concentrava no problema, mas já então incapaz de fazer sequer um calculo.
Euripedes passou a ocupar todos os meus sonhos, meus pensamentos, minha ansiedade e minhas dúvidas.
Eu sabia que minha mãe não ia deixar que eu namorasse. Tinha que ser escondido e se ela descobrisse nem imaginava o que poderia fazer.
Na manhã seguinte quando cheguei à escola ele me esperava no portão com uma rosa que me ofereceu dizendo simplesmente:
- Para você...
Peguei com a mão tremula, alias eu toda tremia como vara verde e nem consegui encontrar a voz para agradecer. Acabei entrando quase correndo com a rosa que escondi dentro do livro como se ela fosse a prova de um crime.
Era uma rosa comum que ele devia ter roubado em algum jardim, mas para mim foi a mais bela flor que vi em toda minha vida.
O interesse de Euripedes por mim durou pouco. Não foi além dos olhares, sorrisos e “Ohs” (naquele tempo era Oh! e não Oi!) Ele deve ter achado que eu era muito bobinha e logo já estava com outra namorada.
Eu, por minha vez descobri outros rapazes mais interessantes do que ele, aprendi a namorar, perdi o medo da mãe e tive uma adolescência alegre e feliz.
E a vida passou rápida demais, trazendo venturas e desventuras, amores passageiros e por fim o grande amor de minha vida, mas isto já é outra história.
Mas, afinal, qual é a cor da saudade?
“
Eu acho que a saudade
Certamente tem a cor
Dos treze anos de idade
Da descoberta do amor.”
Eu acho que a saudade
Certamente tem a cor
Dos treze anos de idade
Da descoberta do amor.”
Este texto faz parte do Exercício Criativo - A Cor da Saudade
Saiba mais, conheça os outros textos:
http://encantodasletras.50webs.com/acordasaudade.htm