Onde está a felidade?
Final de mais um fim de semana. Joaninha chega apressada. Na entrada do prédio cruza com um casal de idosos. Demonstram uma felicidade tranquila, serena. Segue-os com o olhar e fica pensando que aí está uma cena não muito comum, principalmente nos dias de hoje. Uma ambulância que passa às pressas, pedindo passagem naquele trânsito maluco, tira-a de seus pensamentos, Joaninha atravessa a portaria, e dirige-se ao elevador. Em frente deste, impaciente, rói unhas sem parar. É quando chega o porteiro e avisa-a de que o elevador está enguiçado, que já foi providenciado o seu concerto. Joaninha põem-se a subir os cinco andares de um sopro só.
Já em seu apartamento, larga a bolsa, tira os sapatos e senta-se de qualquer jeito no sofá. Enquanto o chuveiro espera, Joaninha fica a pensar: porque será que estou sempre com tanta pressa? Afinal, o fim de semana está recém começando...Entretida com estes pensamentos, toca o telefone. É uma amiga convidando para irem ao cinema. Agradece, mas não está afim não. Após o banho tomado, enfia-se numa camisola e volta para o quarto. Pensa em comer alguma coisa, mas não é o que faz. Não está com fome. A ansiedade anterior dá lugar a uma certa lassidão. Estira-se sobre a cama e ali fica. Fica a pensar na vida, na sua vida.
Enquanto o tique-taque do relógio segue seu curso, os pensamentos de Joaninha mais e mais aprofundam-se. Volta a lembrar-se do casal de velhinhos que viu de mãos dadas em frente ao prédio. Seu íntimo sente uma pontinha de inveja, no bom sentido, mas só por um instante. Seu coração volta a aquietar-se e ela outra vez refletindo sobre sua vida. Ajeita o travesseiro e fica pensando na sua felicidade. Essa tal da felicidade, tão cantada e decantada em prosa e verso, onde andará? Lembra-se de que, desde que tem consciência de si, seu maior sonho era sentir-se plena e realizada.
Agora já adulta, a busca da felicidade continua... Por causa disso, sempre que sai com suas amigas, ou mesmo sozinha, o faz com uma certa dose de expectativa. Estudou, especializou-se, possui um bom emprego. Conseguiu adquirir bens materiais, o mais que seu orçamento alcançasse. Passou a frequentar shoppings, viajou, conhece quase toda orla atlântica,e até também já esteve no exterior, mais precisamente, nas suas férias foi conhecer a Itália. Foi a baladas, flertou, namorou, e nada! Nada da tal felicidade aparecer.
Ainda atravessada em cima da cama, seus pensamentos desfazem-se com o barulho de um trovão. Relâmpagos e trovões que se sucedem por alguns minutos. Com a ameaça de chuva a cair torrencialmente, Joaninha depressa se levanta e fecha a janela. Vai ela então de encontro ao seu hobby preferido. Pega o livro que está lendo e abre-o na página marcada e fica pensando... Como ela pensa não? Este sim, é um fiel companheiro!
Joaninha que ainda está na faixa dos trinta, já não é mais aquela jovem boba e ingênua. Já não pensa em agradar gregos e troianos. Maturidade adquirida, fez com que Joaninha encarasse a vida de uma outra forma.
Mesmo assim, um certo vazio em sua vida permanece. A noite avança e Joaninha continua ali, a ler avidamente. A certa altura da madrugada, o cansaço domina-a e ela adormece. O livro, cujo título é - Em busca da felicidade - escorrega de suas mãos e cai sobre seu corpo. A chuva a esta hora está miúda, fina. Imperceptível aos ouvidos da Joana que dorme profundamente. Adivinhem com o que ela está sonhando?
Em busca da felicidade Joana procurou em tudo que é canto. Aqui, ali e acolá também. Mas não a encontrou em lugar nenhum. Em princípio, a felicidade não está no outro. Antes de qualquer outra coisa, precisa-se estar bem consigo mesmo.
É claro que a vida expressa-se por inúmeras idas e vindas, sempre acompanhadas por sentimentos os mais variados. De alegrias e dores também, faz parte da vida. Mas no caso de Joaninha, esqueceu ela porém, de procurar a felicidade dentro de si mesma.