Ruindows - A Origem
Cansado de ser zoado por causa de seus óculos fundo de garrafa, sua franja penteada para a frente e sua coleção de medalhas de olimpíadas de matemática, Bill jura vingança contra a raça humana. Seu plano é dominar o então incipiente mercado de softwares com produtos tão ruins, mas tão ruins, que farão com que bilhões de usuários no mundo todo percam diariamente preciosas horas de suas vidas. Para isso, tranca-se por meses a fio no porão da casa de sua mãe, até conceber a primeira versão de seu sistema operacional, o Ruindows. A notícia se espalha pela loja de revistas em quadrinhos da qual é atendente e um batalhão de nerds se junta à sua causa. O gênio do mal os reúne num escritório alugado e explica detalhadamente seu plano, adiantando que cada nova versão do sistema operacional não passará de um remendo da anterior, com muito mais linhas de programação e portanto mais pesada e propensa a dar conflito. Meses depois sai o protótipo da segunda versão do Ruindows, que a orgulhosa equipe leva para ser testada pelo seu próprio mentor.
— Vocês perderam o juízo? Acham que eu já não sofri o bastante na escola, é isso? — Bill esbraveja, metralhando toda a primeira fila com uma saraivada de perdigotos. — Arrastem as suas bundas brancas de volta pros seus cubículos e não me apareçam aqui sem uma versão decente! Só pra gente usar, claro...
O que se segue é um fenômeno sem precedentes na história dos fenômenos sem sentido, um fenômeno que por várias décadas quebrará a cabeça dos mais renomados especialistas: o sistema operacional se alastra como um vírus por computadores dos cinco continentes, monopoliza o mercado e seu autor se torna um dos homens mais ricos do planeta. Não satisfeito, Bill lança outros produtos igualmente inescapáveis: o pacote UÓffice, com seus enigmáticos atalhos de teclado, e o Ruindows Live Messenger, que apesar dos bugs e do flagrante delay nas conversas por vídeo durante muito tempo ainda disputa espaço com o Escape, até que Bill decide comprar o concorrente e adequá-lo ao padrão de qualidade Maicrosofre.
— Acho que todos já estão a par da pauta de hoje. Reuni aqui meus melhores homens e quero que me deem suas melhores ideias. E então? Como podemos piorar o Escape?
Um japonês na outra ponta da mesa levanta a mão:
— Se a proposta for seguir a linha dos nossos outros produtos, eu diria "travar a cada quinze minutos, espalhar pastas por todo o HD e complicar a interface".
— E aí, quando as pessoas finalmente aprenderem onde ficam as funções, a gente vai e muda tudo de novo! Hihihi! — outro completa.
— Huahuahuahua! — a risada maquiavélica de Bill ecoa pela sala. Todos fecham seus macbooks e saem sorridentes.
O projeto é um sucesso. Uma semana depois do lançamento da primeira versão desenhada pela empresa, o Escape já bate recordes em reclamações de usuários frustrados. O golpe de misericórdia contra a paciência dos consumidores de produtos Maicrosofre vem pouco mais tarde, quando Bill resolve aposentar a única versão mal e porcamente utilizável do Ruindows, o XP.
Aguardando os próximos capítulos...