UM HOMEM CHAMADO CAVALO

Abuso de poder

A 2ª Cia do Batalhão de Polícia de Trânsito estava em forma para o serviço do turno da tarde. O sargenteante procedia a chamada e o capitão, comandante da Companhia, estava à frente da tropa aguardando o anúncio.

Em visível alteração de humor, o comandante do Batalhão chegou à frente da Companhia e, logo após receber a continência de tropa, dirigiu-se aos policiais que entrariam de serviço. As suas palavras, carregadas de ira, foram pesadamente destruidoras. Sob um bombardeio digno do dia D, carregado de palavras chulas e injuriosas, o moral da tropa definhou decadente. Em especial, diante de tudo o que ouvi, senti-me envergonhado de ser um policial. Cabisbaixos, mirávamos o chão. Eu pensava comigo mesmo: “como terei coragem de sair à rua para o policiamento?” O nosso capitão, também cabisbaixo, mirava o chão, seu rosto, angustiado.

Depois de destruir a sua própria tropa com um discurso injustamente generalizado, tão intempestivamente como chegou, ele saiu, ainda transtornado.

Como filhos órfãos à espera de um pai, assim nossos olhos se voltaram ao nosso capitão. Preocupado também com ele, eu pensava comigo mesmo: “o que ele fará agora?”

Sereno e educadamente, como lhe era peculiar, o capitão dirigiu-se a nós. Ele, por questão de ética, não poderia ir contra o comandante do Batalhão, mas também não poderia deixar a sua tropa emocionalmente arruinada, como estava. Assim, disse-nos:

___O senhor comandante está certo em tudo o que disse, mas nada do que disse se aplica à 2ª Companhia. Esta Companhia é formada por homens honestos, íntegros e honrados pais de família. Eu tenho grande orgulho desta companhia e sinto-me honrado em ser o seu comandante!

Como o profeta Ezequiel que profetizou ao vale de ossos secos, chamando-os milagrosamente à vida, assim, o sábio capitão nos ressuscitou emocionalmente com o seu poderoso discurso. Ele ainda continuou nos falando por mais alguns minutos, restaurando-nos a dignidade e o respeito que o discurso anterior nos tirara. Outra vez podíamos erguer a cabeça e ter orgulho de sermos policiais.

Um capitão, cujo nome gostaria de me lembrar para honrá-lo, com notável habilidade de comando, salvou-nos, não apenas como policiais, mas como seres humanos. Grande comandante, bons tempos em que fomos comandados por ele.

Naassom
Enviado por Naassom em 11/05/2013
Reeditado em 11/05/2013
Código do texto: T4285055
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