Uma história de amor

Contava minha sogra uma história de amor ocorrida na terra onde nascera. Minha sogra faleceu nova, aos 54 anos de idade, era uma mulher apaixonada, a mais apaixonada que conheci. Aliás, ela teve até participação em me influenciar para reforçar o que sentia pelo filho dela. Não seria difícil apaixonar-me aos 27 anos de idade. Aconteceu. E a sogra na torcida, colocando lenha na fogueira, claro, mãe é mãe. Era de tal forma apaixonada pelo marido a ponto de colocá-lo acima dos filhos, aquilo me pareceu exagerado. Gostava muito de conversar a minha sogra e me contava histórias, entre as quais algumas eu pensava ser imaginação dela. O que ocorria, entretanto, é que, envolvida com estudos e com a vida na cidade, eu não compreendia aquela vida de uma mulher interiorana cujo marido era, para ela, uma espécie de deus. Mas o que eu quero é narrar uma história de amor da qual jamais me esqueci. Naquela pequena cidade, quando a minha sogra era ainda uma jovenzinha que frequentava a igreja matriz localizada na praça principal, especialmente para ver os moços bonitos, aconteceu que havia um padre, moço bonito também. Não, ela não namorou o padre, mas uma outra jovem, de nome Maria, frequentava a missa aos domingos e, como as outras moças, não abandonava o recinto da igreja para namorar do lado de fora. Aquela atenção e aquele olhar fixo no altar não eram de piedade e contrição, eram de paixão. Apaixonara-se pelo jovem padre, filho querido de uma família exigente e tradicional da localidade. Maria deu um jeito, que mulher sabe sempre dar um jeito ainda melhor que o jeitinho brasileiro, mas para que o padre visse, percebesse, notasse o quanto estava encantada por ele. E o jovem padre, convicto da vocação que o colocara no altar, demorou, mas notou. Um dia a casa caiu e o padre se apaixonou por Maria. Como a família dele (a dela não sei) jamais admitiria que trocasse a batina por Maria, logo ele a fez ciente disto. Por outro lado, fiel e cristão, o rapaz se sentia consumir no fogo do amor. Que fazer então naquelas épocas duras de convencer pais turrões? Que fazer diante da intolerância da Igreja? Veio a ideia. Combinaram os dois o seguinte: no próximo domingo, após a missa, eles se encontrariam numa fonte não muito distante da igreja. Assim foi, o padre embatinado e a bela Maria se encontraram ao lado da antiga fonte. O que ocorreu ali? Havia o casal acertado dar fim ao sofrimento amoroso. Os dois se jogariam na fonte. Acontece que, à beira da tal fonte, veio a indecisão. De Maria. Dele não. O padre estava decidido de verdade. Então disse Maria: Pule você primeiro. Ele não conversou. Pulou. Ela desistiu da morte. Foi encontrado morto, no fundo da fonte, abraçado ao missal, o jovem padre. Daí em diante, a fonte ficou conhecida como A fonte do padre.