Ainda era madrugada
Ainda era madruga quando o céu deu-se conta do que ocorrera. Ainda repousava sobre a maca branca e limpa um corpo demente.
Unhas bem feitas das mãos aos pés, uma tez leve, branca, parecia dormir. Um silêncio crucial interrompido apenas por um bip insistente de uma máquina maldita. A sala se encontrava vazia desde que ela chegará ali, sua tia se queixava constantemente, saberia que não haveria ninguém a quem socorrer. Olhos e boca cerrados como se abrir não fosse mais uma opção. Era madrugada e por fora do quarto roncava insistente uma senhora, se é que se pode chama-la assim, aparentava ser mais nova que a paciente. Mãe é mãe, ainda cansada e com dor na lombar, dormira todos os dias do lado de fora do quarto, pois sabia que o ronco atrapalharia o sono de sua filha. O céu despencava numa variedade de pingos que tocavam o teto com um peso colossal. Um batom vermelho ainda cintilava nos lábios antes carnudos. Um bip insistia de quando em quando, como um relógio esperando moribundo esperando parar.
As mãos soltavam de pouco o lençol, os dedos abriram levemente, esperando uma reação, um dedo amigo, eram só os dez e nada mais
e o bip desistiu.
Ainda era madrugada enquanto uma mãe solitária dormia a fora de um quarto de hotel.