Os invisíveis
OS INVISÍVEIS
Jorge Linhaça.
Temos hoje, em grande parte de nossas Alas e Ramos uma multidão de membros invisíveis.
Invisíveis ativos e invisíveis inativos.
Irmãos pelos quais passamos pelos corredores e nem sequer sabemos seus nomes.
Filhos do Pai Celestial que se sentem excluídos das rodinhas de conversas e das amabilidades trocadas sempre entre os mesmos irmãos.
Passamos por eles, mas não os vemos, sentamos ao seu lado quando não existe outro lugar vago, mas nem sequer lhes dirigimos a palavra.
Não sabemos de onde vem, onde moram, se estão de passagem ou pertencem às nossas unidades. Nas salas de aula os professores por medo, insegurança ou excesso de cuidado, raramente se dirigem a eles.
Por conta disso muitos acabam por estar mesmo só de passagem, embora sejam nossos vizinhos.
Irmãos cujo nome consta em nosso registros mas que nunca nos preocupamos em saber quem são, o que andam fazendo, qual o motivo de sua ausência, e ficam lá, como um velho livro empoeirado que deixamos para ler, ou para ser lido por outros, um dia no futuro.
Alguns desses irmãos falecem sem jamais ter recebido uma visita de quem poderia fazer a diferença em suas vidas.
Olhamos para nossa lista de membros e vemos apenas números , como se isto fosse um grande negócio e os irmãos fizessem parte de algum arquivo morto de clientes que deixaram de utilizar nossos serviços mas que foram substituídos por novos clientes que mantém nossas portas abertas.
O pior é que, mesmo as boas empresas, procuram fidelizar seus clientes, volta e meia fazem um telemarketing para avaliar o grau de satisfação com seus produtos e oferecer novas oportunidades de contratação de serviços. Solicitam que avaliem a qualidade de seu atendimento e buscam encontrar meios de não perder nenhum novo cliente além de buscar resgatar os cadastros inativos.
Nós não vendemos produtos, oferecemos de graça o evangelho de Jesus Cristo e o mapa do caminho para o desenvolvimento espiritual de cada pessoa. Não é estranho então que alguns se sintam desestimulados a continuar? Sabemos que nosso produto é, de longe, o melhor do mercado, que é o único que oferece um pacote completo das bênçãos de Deus, que nosso produto não se deteriora com o tempo e nem necessita de reposição.
Então qual é o problema? Por que tantas pessoas deixam de apreciá-lo, mesmo depois de o adquirirem?
O problema é o nosso SAC (Serviço de Atendimento ao Cliente), pois grande parte de nossos funcionários estão em férias há muito tempo. Outros comparecem ocasionalmente ao trabalho.
A pessoa recebe o produto com alegria, com um folheto explicativo de como o produto chegou até ele e os benefícios que pode lhe trazer. No entanto, apesar de o folheto dizer que pode contar com o nosso SAC para obter mais informações, que pode receber e aprender a usar os vários manuais que acompanham a sua nova aquisição, e contar com a visita de técnicos em sua casa, o que ocorre é o seguinte:
As linhas do SAC parecem estar constantemente ocupadas e, quando conseguem algum contato, as visitas agendadas dos técnicos raramente ocorrem em tempo hábil.
Os novos manuais que ajudariam a tirar o máximo proveito do produto, ou não chegam até eles, ou os explicadores dos mesmos falam uma linguagem pouco acessível aos novos clientes.
Como “ a cavalo dado não se olham os dentes”, os novos proprietários sentem-se pouco à vontade para dizer que pouco ou nada estão entendendo, até que simplesmente desistem de frequentar as reuniões explicativas.
Ora. Uma empresa incapaz de perceber as necessidades de seus clientes, esta fadada à estagnação por mais que sua carteira inche-se de novos nomes. Afinal, um cliente insatisfeito, além de não consumir o produto oferecido ainda representa uma má propaganda.
Dizem que um cliente satisfeito é capaz de indicar os serviços ou produtos de determinada empresa para uma ou duas pessoas, no entanto, aquele insatisfeito, falará de sua decepção com quantas pessoas encontrar pelo caminho.
Quando entro em uma loja, tenho a expectativa que alguém venha me atender, perguntar minhas necessidades e apresentar-me os produtos dentro daquilo que procuro. Quando pareço invisível aos olhos dos vendedores, seja porque estou trajado mais simplesmente ou porque apenas aqueles funcionários são displicentes, minha atitude é a de procurar outra loja, a não ser que não tenha opção.
Quando alguém adentra a igreja, não esta indo lá como a um passeio, está em busca do puro amor de Cristo, está em busca de experiências espirituais que tenham a capacidade de mudar sua vida. Se encontra um ambiente frio e desconhecido, sua insegurança aflora e, ao não sentir-se parte do grupo, opta por não mais retornar. Simples assim.
Poucas pessoas gostam de se sentir invisíveis e descartáveis, pessoas gostam de pessoas, gostam de sentir-se inseridas no ambiente e na família de Cristo.
Um abraço, um sorriso de boas vindas, um ensinar a cantar os hinos, um apresentar o recém chegado aos demais, faz toda a diferença do mundo. Por mais simples que seja.
Afinal: É das pequenas coisas que provém as grandes.
Salvador, 06 de maio de 2013.