O médico e o monstro
A teia da nossa vida é um fio mesclado, o bem e o mal juntos. (Shakespeare).
O Médico e o Monstro é o nome de um dos grandes clássicos da literatura mundial; escrito por Robert Louis Stevenson; o qual, com singular excelência, trata da condição paradoxal da essência do ser humano, de forma extremamente chocante. Nesse livro, o Seu personagem principal, doutor Henry Jekyll, um médico de prestígio e respeito; de uma conduta moral exemplarmente rígida, de boa aparência e caráter irrevogavelmente acima de qualquer suspeita. Dr. Jekyll era de boa estatura. Seu semblante transmitia calma e serenidade. Após realizar alguns experimentos na tentativa de separar o bem do mal na essência do ser humano, usando a si mesmo como cobaia, o médico acabou por criar outro ser; pois, sob o efeito da estranha fórmula que criara, tornava-se um homem monstruoso, de feições severas, e tão estranhamente aterradoras que deixava apavorados todos que o viam, como se fosse uma aparição do próprio diabo. Esse ser era Mister Edward Hyde.
Essa análise de Stevenson revela que todos nós, no íntimo do nosso ser, ainda que de forma latente, somos médicos; entretanto, os processos curativos utilizados por nós nos fazem ser ou parecer monstros aos olhos dos que, de fora, nos vêem sem compreenderem a nossa dimensão de valores envolvida nesse processo curativo.
Quando o médico se torna o monstro, tanto os seus valores utilizados na cura de muitos, quanto os méritos por todos os que já foram curados são esquecidos. O médico amado já não existe mais, restando apenas um terrível monstro a se temer e a se caçar.
Por isso, todos nós temos, na essência do nosso ser, algo maravilhoso de médico, o que não se refere necessariamente à prática clínica ou à prescrição de medicamentos. Ser médico, como todos nós somos, é ter em nós mesmos o altruísmo, a bondade e a compaixão que nos leva a nos envolver com as pessoas em dificuldades, ajudando-as, socorrendo-as. Pode-se ver isso claramente quando há algum trágico fenômeno da natureza, como terremotos ou enchentes. Nesses episódios a população, impelida pelo médico que há dentro de si, corre em favor do outro, socorre, ajuda, intervém.
Quer queiramos ou não, há também um monstro impetuoso, latente, adormecido dentro de cada um de nós. Queremos e gostamos de ser o médico; mas não podemos negar nem fugir do monstro que há dentro de nós, o qual, representado também em sua nova versão, o Incrível Hulk, emerge furiosamente como um vulcão em erupção, sempre que nos sentimos ultrajados. Esse monstro é também o lobo do homem que um dia socorre e ajuda, e no outro dia pisa, explora, mata e devora o próprio homem.