O SHOW DE RIEU

Engana o que não é nem deixa de ser. Igual a explicar o inexplicável, até impressiona como havaianas: as legítimas, claro. Para o jogo de cena no descortinado palco da vida, é mágico o vermelho tapete da competição entre os que buscam sucesso a qualquer preço ou qualidade. “Alho por bugalho” e “Gato por lebre” bastam como chavões exemplares ao que se confunde como imitação, falsificação, adaptação, versão e pirataria. Vulneráveis a tudo isso, as artes se veem num campo de concentração onde a música é a vítima mais explorada em todos os gêneros, chegando ao clássico. Para este há um público restrito a três segmentos: os profissionais que a entendem e dela vivem; os que tecnicamente não a entendem, mas aprendem a apreciá-la pela sensibilidade e gosto aprimorados com o hábito de ouvi-la; e os que não gostam por não conhecê-la, não a conhecendo por nunca tê-la ouvido. Até aí, estes são os mais fáceis de serem enganados.

Foi conquistando esse público que nada ouve ou, quando muito, limitado aos clássicos mais conhecidos, que André Rieu conseguiu a popularidade internacional não alcançada pelos mais prestigiados maestros do mundo. Adaptando arranjos a peças bem ao alcance do gosto comum, inseriu, conjuntamente aos sucessos populares de cada país, coreografias ao concerto musical dançante. O público vibra, delira, dança e, emocionado, chora. E não é para menos, pela plateia que o assiste. Clássicos ao gosto popular, num concerto internacionalmente pop. Mais ou menos parecido o repertório com o que apresentavam “Os três tenores”. Diferença radical no concerto de Rieu quanto à importância da orquestra e a qualidade do coral, especialmente os solistas. Nenhum músico virtuoso, nenhuma diva do canto. Todo o elenco de André Rieu é composto por músicos e cantores não pertencentes às grandes orquestras ou companhia de óperas. E, sem demérito, não vou muito longe: nenhum dos solistas do coro de André Rieu pode ser comparado aos que compõem o Madrigal de Brasília ou a Ópera do Teatro Nacional. E o popular maestro não conseguirá atrair músicos e cantores desse nível enquanto reger o concerto/espetáculo no estilo que o apresenta.

É certo que “o artista tem de ir aonde o povo está”, mas levando o melhor que tem da sua arte, como faz Milton Nascimento. Como fazem outros músicos e maestros de orquestras formadas desde os grandes centros, como Brasília, até o sertão nordestino, mas sem abandonar a originalidade da obra, sem dela tirar proveito sobre o que é brilho do compositor, mas regendo um concerto que chegue e agrade a todos, com o que seja belo, melhor e de bom gosto, para não impressionar não sendo, sem deixar de ser.
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LordHermilioWerther
Enviado por LordHermilioWerther em 09/05/2013
Reeditado em 09/05/2013
Código do texto: T4282526
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