O BANDIDO DA MÃO QUEBRADA

Naquele tempo remoto em que a mata Graciosa ainda era pequena, o justiceiro Lobo da Rocha Figueira dizia que sua genética tinha rocha e a madeira da figueira. Matava por prazer ou por pirraça, era o terror das cercanias e até hoje é lembrado pela frieza com que atravessava o punhal na costela dos bichos e lambia a ponta... Preá e demais colegas proseavam na boca da noite em frente a velha estação do Cerrado, onde Lobo da Rocha de vez em quando passava para comprar pólvora, sal, querosene e fumo, gostava demais do fumo grosso da marca Colombo, cada tragada um tombo. Preá comenta com o Jacutinga:

- Dá até um arrepio quando vai chegando o escurecer... Lembro-me dos causos que os antigos contavam sobre o finado Lobo. Era moleque, lembro quando o justiceiro chegava por aqui, sempre acompanhado de dois capangas, montava num esperto cavalo castanho fechado, dos zóios de uma má inclinação. Um dos capangas era mais feio do que o mapa do inferno de ponta cabeça e o outro parecia satanás acabrunhado!

Jacutinga emenda o causo:

- Lobo da Rocha era elegante, bigode em forma de “S” que uma ponta sobe outra desce, pra dizer que na terra dele, cachaça e mué não apodrece. Sentava bem no cavalo, vestimenta alinhada e tinha como passa tempo preferido caçar Perdiz, arte que dominava como poucos na pontaria certeira. Contam os mais velhos que seu primeiro crime ainda criança foi contra um Gato indefeso, abriu o forno do fogão e botou o bicho lá dentro... Dali em diante matava por prazer.

Jabuti o mais velho da turma recorda:

- Aquela vez na venda do boqueirão o Lobo matou Gazela e lhe arrancou os dois peitos!

Preá corta a prosa:

- Só que tem uma coisa, o Lobo da Rocha era um justiceiro que fazia justiça e chegou a matar o próprio bicho que o contratara para uma quebra de milho (execução). Descobriu que o fazendeiro estava roubando o sitio do pobre Gambá que iria morrer inocente! Quando Gambá ajoelhou reverenciando, Lobo botou o pé no peito dele, jogou-o para trás e disse com a mão quebrada e a voz meio afinada:

- Não sou Deus... Levante imbecil! Sou apenas um Justiceiro e não mato por acaso, fédaputa! Suma daqui vagabundo!

Lobo picou bala no chão fazendo o Gambá dançar um catira improvisado.

Nisso chega na roda de prosa o Furão e diz:

- O Lobinho era o maior boiola do sertão!! Era mêmo, quanta vez na volta do córrego da batata se escutava um uivado longo e bem efeminado, era a hora que ele dizia estar muito nervoso...

Preá não acredita:

- Num é verdade, como um justiceiro macho daquele jeito podia ser enrustido?!

Jacutinga, diz:

- O Javali o desafiou num duelo lá na cachoeira de Morrinhos e disse que aquele era o fim do maior baitola do sertão e Lobo da Rocha cravou lhe dezoito punhaladas no peito.

Preá recorda:

- Eu já ouvi esse causo. Ele até foi chamado de punhos de renda. Na emboscada lá no rio Mogi perto do Jataizão, Lobo da Rocha na derradeira uivada, disse:

- Delegado Urutu de cruz na testa, meu macho... Deixe me realizar o ultimo desejo de minha vida...

- Diga desgraçado!!

- Um beijo na sua boca...!!

Lobo da Rocha afundou no rio, os guardas pregaram fogo e comemoraram o fim do justiceiro. O fera e a fera. Famoso bandido da mão quebrada que sumiu no rio e o corpo nunca foi encontrado...

PS- Essa crônica fala do matador “punhos de renda” Diogo da Rocha Filho, o famoso Dioguinho. Há cem anos atrás.

Zé Pretinho
Enviado por Zé Pretinho em 09/05/2013
Código do texto: T4282175
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