Fi-lo porque Qui-lo
                                                                                              
                                                                                  “ Procuro me manter isolada contra a agonia de viver dos outros, e essa agonia que lhes parece um jogo de vida e morte mascara uma outra realidade, tão extraordinária essa verdade que os outros cairiam de espanto diante dela, como num escândalo. Enquanto isso, ora estudam, ora trabalham, ora amam, ora crescem, ora se afanam, ora se alegram, ora se entristecem. A vida com letra maiúscula nada pode me dar porque vou confessar que também eu devo ter entrado por um beco sem saída como os outros.” Clarice Lispector.
 
             
       

                 
                        Quando começo a me aborrecer  em demasia  com a vida e, principalmente, com as pessoas que estão próximas a mim, cuido logo de me encontrar com o meu amigo Plutarco, filósofo de botequim dos bons.
                        O nosso filósofo adotou o nome de Plutarco  por ter se identificado com o filósofo grego, naturalizado romano.  Plutarco jamais  se irritava com as imperfeições humanas. Achava tolice.
                        - Plutarco, meu amigo, ando me irritando muito com tudo que me parece torto na vida.  -  Mas já não lhe disse que não leva a nada a sua irritação?
 -  Já me disse mil vezes, porém ainda não consegui esse controle.
  -  Quando ficamos com a vista cansada pelo excesso de luz, desviamos o nosso olhar para algo escuro, ou para o verde da relva.  É o que você tem que fazer. Nada de remoer...
                        E o filósofo amigo,  com sua sabedoria e calma,  acabou por me tranquilizar. Foi quando ele se lembrou dos tiranos e governantes malucos que o mundo já teve que aturar.
                        Rindo muito, lembrou-se de um exemplo doméstico. Recordou-se  do Janio Quadros. O tal que, com seis meses,  renunciou ao cargo de Presidente da República. Dizia o filósofo que notou logo  o lado bizarro dele pelos famosos bilhetinhos que ele enviava para os seus assessores.  Viu logo  o seu temperamento esquisito  pelas frases tortas que ele adorava usar.
                        E me contou essa passagem saborosa, para confirmar a sua impressão:  um belo dia, Janio, quando Governador do Estado de São Paulo,  recebeu um jornalista para uma entrevista.  O jornalista teve que elaborar por escrito suas perguntas, exigência do exótico Janio. O nosso Governador, quando viu as perguntas, indagou surpreso: - “ Fê-las o senhor mesmo?  - Fi-las, respondeu   o repórter  imediatamente.  Janio, com aquele seu olhar também torto, admirado, soltou essa:  - “Amas também a forma oblíqua?”
                        Depois dessa,  minha amiga leitora, meus bons amigos, que já me aturam com mais de 600 textos, pergunto: - Temos ou não temos que ser tolerantes? 
                        Já sei que uma leitora mais atenta vai me cobrar a parceria que venho fazendo ultimamente com o grande Machado de Assis.  Respondo que hoje resolvi deixar  em paz o Machadinho.  E mesmo sabendo que estarei errando no português, direi que este texto  diferente,  Fi-lo porque Qui-lo!
                     Zangar-se-ão os queridos leitores com essa esdrúxula crônica?
                    Jamais zangaremos, provavelmente,  "di-los-ão" !   Meu Deus, existe este palavrão?