O HOMEM DAS VERDADES BASTARDAS

Chegar até a paz de espírito é um caminho forjado em espinho.

Mesmo nas flores sou capaz de ver pétalas com tons de horrores.

Sou feito de angústia bruta, entremeada por um labirinto de confusões mentais.

A tristeza é uma besta astuta que se espreita por esquinas estreitas, por vielas sujas, cujas pedras soltas alçam vôo rumo a minha cabeça.

Convivo com demônios dentro de mim.

Seres famintos que roubam de mim vontade de ser alegre.

Por vezes, minto, ao fingir que não sinto, mas todos continuam lá, empoleirados na beira de um abismo, com seus olhos vermelhos postos na figura frágil postada em joelhos, que nada mais do que eu mesmo.

Vivo a esmo, sem tempo para ver o tempo.

O vento sopra lento de dentro das cavernas dos meus medos.

Logo cedo percebo o quanto é tarde.

Arde em minhas têmporas o aço viu das desconfianças.

Vejo crianças, sinto futuro, vejo o escuro.

Um muro se eleva diante de minhas expectativas mais lascivas.

Meus demônios riem sorrisos escancaradamente falsos.

São todos minhas crias. Nasceram da minha complexidade inabalável, de gestação fácil e sem qualquer tipo de prazer.

Gozaria na mente em vê-los todos mortos e queimados no fogo brando do inferno, mas minha fraqueza impede tal ato.

Sou covarde para por fim à minha vida, e resignado tornei-me um coadjuvante de um enredo mal escrito.

Não faço sentido como pessoa.

Meu olhar sentido intimida as pessoas.

Sou carrancudo como um céu nebuloso, com seus tons de cinza ameaçando jorrar água por todos os lados.

Tenho medo e pavor da morte, não consigo aceitar que existi um fim.

Quanta contradição num homem só, e tão miserável quanto eu.

Quanta ilusão posso guardar sem me machucar ainda mais?

Sou forjado em mentiras, que de tão batidas, se tornaram as minhas verdades bastardas, todas elas nascidas de relacionamentos com vagabundas, prostitutas, seres mundanos que residem num canto imundo qualquer do meu ser.

Queria gritar por ajuda, mas me sinto tão sem esperança, que não acredito que alguém possa estender as mãos e evitar que eu despenque rumo ao nada sob o qual caminham os meus pés.

Deep Blue
Enviado por Deep Blue em 09/05/2013
Código do texto: T4281955
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