Sobre paciência e respeito aos idosos

 
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Temos, há muito tempo, guardado dentro de nós um silêncio bastante parecido com estupidez.
                                          Eduardo Galeano

 

 
     É certo que a comodidade do débito em conta nos livrou de longas filas nos bancos, mas algumas são inevitáveis. Encargos temporários e alguns serviços extra sempre nos colocam nelas e nada pode ser mais chato que ficar em pé numa fila no fim de um dia de trabalho, horário em que a maioria de nós dispõe para chegar a tempo em um banco, no atendimento individual.
 
     Apesar de cansativas, tenho tirado delas, do contato com as pessoas na mesma situação, algumas lições. Tenho uma estratégia básica se a fila está longa: coloco as contas no final do livro que estou lendo e mesmo concentrada na leitura, caminho atenta para o que me cerca.
     Quase sempre meu “ouvido vira-lata” aproveita alguma coisa. Dia desses observei que uma senhora certamente de mais de 80 anos realizava suas tarefas meio atrapalhada, bem devagar e com dificuldade, pois não havia nenhum estagiário/a por perto. Achei ótima sua atitude independente, mas percebi a impaciência das pessoas com a sua demora em realizar as operações.
     Comentavam entre si, reclamando da demora em realizar as tarefas e percebi também que a atitude desrespeitosa e impaciente das pessoas na fila deixavam-na mais insegura e nervosa e tinha de refazer mais de uma vez o mesmo procedimento.
     Um senhor aparentando uns 45 anos insistiu que estava com pressa, que a demora estava atrapalhando a todos e alguns concordaram resmungando alto. Perdi a paciência e respondi em alto e bom som que o fato de termos pressa e compromissos não nos dava o direito de sermos indelicados e desrespeitosos com quem quer que fosse e quanto mais atrapalhassem com falatórios e comentários sobre a demora, mais difícil tornavam a tarefa da senhora.
     O “senhor” me enfrentou: -“Gente nessa idade devia andar acompanhada com alguém que fizesse isso pra ela”. Nem preciso dizer que a discussão se acalorou porque perguntei o que o ele sabia da vida da senhora, como podia sugerir isso, pois nem todos têm alguém que faça por eles esse tipo de atividade. Ele respondeu que não conhecia, mas achava que ela estava “muito velha” para lidar com essas tarefas que exigiam agilidade e habilidades com a tecnologia.
     Respondi: “- Moço, o senhor é jovem agora. Tomara que com a sua impaciência consiga chegar na idade dessa senhora e tomara que as pessoas sejam mais gentis e generosas que você.” Voltei-me para o fim da fila, levantei a pilha de contas que estavam comigo e avisei:"- Quem está depois de mim saiba que vou demorar o tempo que for necessário. Quem não quiser esperar que troque de guichê!”
     Uma estagiária veio, finalmente, ajudar a senhora e os ânimos se acalmaram. Voltei a leitura do meu livro e nem quis olhar para trás, para ver se alguém trocou de guichê, assustada com a pilha de papel que mostrei.
     Fiquei pensando quando será que a nossa sociedade, em especial a que define os caminhos da Educação, vai negligenciar a tarefa de investir na questão não só dos direitos, mas dos Valores Humanos. Educar para o respeito a vida em todas as suas etapas é responsabilidade social e não apenas tarefa das famílias, muitas delas sem referência alguma do sentido e do significado de algo assim para o convívio saudável e fraterno entre os seres que habitam este planeta.