Efeitos colaterais da guerra
Eu não sentia paz. Sabe? Esse é um dos efeitos colaterais que você adquire com a guerra. Mesmo quando ela acaba você ainda vive em medo.
Agora, naquela casa mal iluminada, poucas horas depois do jantar, eu me peguei pensando sobre isso. Normal. Depois da perda de Drake, meu irmão mais velho, eu sempre terminava o dia com algum pensamento relacionado ao holocausto de 1939. Hoje, em especial, foi sobre a ausência de paz. Drake, com todo o seu amor patriota morreu servindo o país. O dia anterior a sua morte, ele telefonou. Disse que estava sobrevivendo. Eu ouvia suas palavras com um som de chuva atrás e imaginava suas botas sujas de lama. Sobrevivendo. Não havia esperança em sua voz, eu me lembro de ter notado. “Você é forte, Drake”. Não precisava dizer mais do que isso. Eu sabia. Drake sabia. Uma coisa que aprendi foi que, estando em guerra, um dia você pode estar vivo, no outro não. 19 de janeiro foi o dia que meu irmão não acordou com sorte.
Neste momento, naquela sala minúscula com todos aqueles móveis empoeirados, eu conseguia ver relances dos meus últimos momentos ao lado dele. Momentos inocentes, sem aquele gosto de despedida, que eu não imaginava que mais tarde teriam tanta importância.