JORGE DE BUENOS AIRES, AGORA FRANCISCO O PAPA
Grandes eventos mundiais sempre atraem os especialistas; os sabem tudo. E com semblante especial para a ocasião não preveem, não supõem, não acham nada uma probabilidade. Afirmam como será e por que é, como foi e por que será. Garantem.
Quando alguém, seja da aldeia ou do infinito universo, assume uma grande posição, um cargo relevante de comando de um município, de um país, de uma instituição global, os especialistas sabem tudo a respeito. E basta um pequeno detalhe da vida ou da obra; de um gesto ou de uma atitude mais simples para que os especialistas predigam o futuro.
Para os especialistas basta o nome Francisco, tomado pelo cardeal de Buenos Aires, agora papa, para dizerem que significa humildade e traduz dedicação aos pobres e desvalidos, mudanças e transformações radicais na política a ser adotada daqui pra frente pelo Sumo Pontífice no trato das coisas da igreja. E por quê? Que Francisco é esse, com tais características?
Francisco de Assis, uma pequena cidade italiana da Úmbria, que fundou a ordem dos franciscanos foi um pregador itinerante, baseando-se em como fez Jesus, e não como faziam os religiosos daquela época que não saiam dos mosteiros; dedicou-se aos pobres do mundo mau do século XIII. Todavia seu nome de batismo era Giovanni. A troca de nome para Francisco – Francesco em italiano - é incerta e não há comprovação de que teria sido dado pelo pai dele por sua admiração a música, a poesias e pela vida dos franceses – francese, em italiano. Ninguém sabe por que Giovanni resolveu ser chamado de Francisco.
Francisco Xavier, nascido em Xavier na Espanha, foi missionário, considerado pela Igreja Católica quem tenha convertido mais pessoas ao cristianismo, mais do que qualquer outro, desde Paulo que não foi apóstolo entre os doze. Francisco Xavier foi levado a Portugal por Inácio de Loyola e de lá saiu para evangelizar na Índia, Ceilão, Japão e na China, onde morreu com pouco mais de 40 anos. Esse Francisco, com outros estudantes da Universidade de Paris, entre eles Inácio de Loyola, foi fundador da Companhia de Jesus, por tanto, um jesuíta. Esses fizeram votos de pobreza e castidade e juraram ir para onde o papa os mandasse, sem questionar. No Brasil chegaram com Tomé de Souza, liderados por Manuel da Nóbrega, e no que hoje é o Rio Grande do Sul fundaram as missões jesuíticas.
Portanto não há nada de humildade nas atitudes que esse Jorge de Buenos Aires agora papa Francisco adotará que advenha simplesmente do nome. Recusar-se a usar a capa vermelha ornamentada com pele de arminho, não usar sapatos vermelho feitos à mão e sob medida pela Prada, pagar ele mesmo a conta do hotel onde se hospedou antes de ser eleito papa, lavar e beijar pés de condenados jovens entre eles mulheres e muçulmanos e outros ações nesse início de pontificado não indica que essas atitudes prosaicas e bem ao estilo populista peronista mudará algo relevante na milenar Igreja Católica Apostólica Romana, como afirmam e garantem entusiasmados os especialistas e até mesmo outros sem nenhuma credencial.
Nada será diferente daqui pra frente. As políticas da Igreja Católica, assim como as políticas de estado não mudam não são alteradas. Um presidente de um país democrata não muda as políticas de estado. O que ele pode fazer é mudar apenas algumas políticas pontuais. Cotidianas. Barac Obama não mudou nada em seu primeiro mandato e nem está mudando nada nesse segundo. A política de estado dos Estados Unidos jamais será mudada. Nos primeiros meses do primeiro mandato mandou 30 mil soldados para o Afeganistão e até hoje não fechou a prisão de Guantánamo em plena ilha dos irmãos Castro, Cuba, cuja população sofre um bloqueio comercial norte americano há 50 anos. Um paradoxo.
A Igreja Católica não abrirá ao sistema monetário internacional os segredos do Banco do Vaticano, onde as contas são apenas numeradas, como são em bancos dos chamados paraísos fiscais. Não abrirá totalmente sua monumental biblioteca com livre acesso a todos os livros e documentos. Não aceitará o aborto, nem que seja por má formação do feto daí nascendo um ser humano incompleto, inútil e infeliz consigo mesmo porque nele há vida. Que vida! Não aceitará a união entre homossexuais, as freiras em igualdade aos padres, pois não poderão ir jamais além de serviços domésticos e gerais, enfermagem, magistério. Não permitira abolir o celibato, ou permitir, pelo menos, aos que desejarem casar. Não deixará de cobrar serviços que deveriam ser gratuitos, como os ofícios de casamento, batismo, crisma e todo tipo de missa.
Assim como países tem políticas de estado a Igreja Católica também as tem; e mais, tem dogmas.
Um dogma é uma “verdade absoluta, imutável, infalível, inquestionável e absolutamente segura sobre a qual não pode pairar nenhuma dúvida.” Não pode ser negado nem revogado pelo papa e por nenhum concílio.
A igreja Católica Apostólica Romana dos 500 anos já não se comparava a da Idade Média que com o poder, a riqueza e a hierarquia herdada do Império Romano decaído, por séculos dominou a Europa. A igreja de hoje também não se compara com aquela; está mais branda, mais terna, mais civilizada. Mudanças que não saíram do seio da igreja, mas, sim, da sociedade; da imposição imposta pelo peso dos séculos. Como tudo, naturalmente.
A Igreja Católica Apostólica Romana, que vem perdendo milhares de fiéis cristãos para outras igrejas cristãs, continuará conservadora e oferecendo o céu e o inferno após a morte depois de um julgamento mundial. As outras igrejas cristãs oferecem o céu aqui na terra mesmo e agora. Quem quiser que faça sua escolha; a que oferece a melhor promessa. Porém nenhuma delas cumpre o que promete. Talvez por isso os especialistas não consigam acertar nunca as previsões que fazem.