O ócio e os seus devaneios

Ao lado do meu apartamento, julgam os condôminos, estar assentadas garotas de programa. Mas não sei, tenho lá minhas dúvidas. Dizem ser bonitas, dotadas dos mais belos corpos, nunca as vi. Outro dia saiu dois homens arrumando seus ternos e suas gravatas, nada demais! Apenas dois supostos empresários, advogados... ou serão clientes do prostíbulo, que os vizinhos juram existir? Confesso que não sei.

Opiniões que se acentuam no momento em que os habitantes do prédio se reúnem para apreciarem o chimarrão. Coisas de cidadãos ansiosos em falar mal da vida alheia. Parece que fizeram cursos, especializações para concretizarem suas dissertações. Está certo que diante dessas opiniões aparecem alguns mitos, mas juram ser verdade. Desocupados, homens e mulheres que não possuem deveres: filhos criados pelas ruas, escola só para comerem e uma série de palavrões berrados ao chegar da noite. E tem mais: o marido que espanca a esposa no início do mês com a chegada do recebimento do salário, a mulher do 402 que sai com o vizinho do 403, o mal pagador de aluguel, o assassino do 204 que até hoje se esconde da brigada militar. Ah, também ali, no 303, reside a Vilma, mulher que todos sabemos que raptou um garoto e o registrou em seu nome; a mãe do garoto passa todas as tardes desesperada procurando pelo seu legítimo filho e a sequestradora empunhando uma cuia com erva de mate bem quente, delicia-se.

Quando o Sol der lugar a imponente entrada lunar eles recolher-se-ão para esperarem os fregueses adentrarem ao 205 e lá retirarão suas conclusões, adjetivadas com a pitada de fofoca que todos aqueles que usufruem do ócio possuem.

Sergio Santanna
Enviado por Sergio Santanna em 27/03/2007
Código do texto: T427898
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