AO HOMEM NA JANELA

O caminhar é preciso – e sempre. Muitas vezes já ouvimos tal expressão. E todo dia pela manhã ele sai de sua casa e segue pelas ruas até o seu serviço. Todas as manhãs, de segunda à sexta, mais de duzentos dias por ano. E, nesse caminhar, vê todos os dias o homem na janela.

Talvez de tanto observar começa a reconhecer certas peculiaridades naquele ser humano que está no segundo andar de um prédio da esquina de uma avenida qualquer a contemplar os transeuntes que dirigem para os seus respectivos serviços.

O transeunte pode observar, também, que não é um homem qualquer; é um senhor que fica todas as manhãs a observar os passantes. Parece que cada ser humano que passa por ali ele já guarda os semblantes, parece até – embora meio distante – a acenar com a cabeça a passagem de cada um.

Cada um a observar. Cada um com o seu ponto de vista. O transeunte vê no homem do segundo andar um senhor de largos bigodes, de bermuda, sem camisa, com uma barriga bem saliente; parado. O homem do segundo andar vê no transeunte um jovem senhor, de carreira promissora, mas sem saber o seu destino.

E nessa troca de informações, o leitor fica no meio – como sempre: pois é apenas um pacífico leitor que, no momento, não pode interferir nos dedos do digitador. Pode, posteriormente, interferir, mas só fará parte num segundo momento, ou seja, na reescrita do texto – ou até na sugestão de temas afins a partir da leitura deste.

O homem do segundo andar vê no transeunte não apenas um ser qualquer, mas um batalhador que busca ganhar o seu pão de cada dia na melhor maneira possível: com honestidade, com dignidade. O transeunte vê no homem do segundo andar um senhor um tanto despreocupado, pois ainda está apenas de bermuda. Será que não trabalha (ou vai mais tarde)? Ou já trabalhou muito, é um aposentado – pois dificilmente pela distância não é fácil de se estabelece idade.

E o leitor, no meio de tudo isso fica a pensar: será que não há nada nas pontas do dedo desse digitador a fazer? Será que ele não pode pensar em mais nada? Mas sem deixar cair uma letrinha, lembre-se que nas menores coisas da vida um observador pode tirar muito!

E, finalizando, o transeunte faz uma sugestão ao homem do segundo andar: poderias tu estar usando um binóculo e olhar as janelas dos outros prédios, pois estás localizado entre outros prédios – talvez alguma dama surgisse em trajes menores, ou até mesmo nua. E o homem do segundo andar sugere: por que tanta pressa em correr atrás do pão de cada dia? Não ficarás mais rico. Apenas trabalhe o necessário – independente de onde você trabalha. Eu corri muito e hoje cá estou parado a observar o tempo sem poder me mover com tanta freqüência. É a vida!

É a vida, sugere novamente este digitador. É a vida, mas a vida não pára. Ela sempre a continuar – é como a água que passa sob a ponte em busca do horizonte, assim somos nós em busca desse horizonte: nosso destino!

27 de março de 2007

Prof Pece
Enviado por Prof Pece em 27/03/2007
Código do texto: T427841