ACONTECE CADA UMA NA VIDA DE MUSICO!!!
CARDOSO & DONIZETE
Banda Porto 2000
O “Cardoso” que era um dos líderes do nosso grupo musical recebeu um telefonema, e foi acertada que íamos fazer uma apresentação numa boate, boate essa localizada na Zona Rural da cidade de Leme, interior do Estado de São Paulo.
No dia programado (sábado) o “Donizete” tirou o ônibus da garagem e ia pegando o pessoal, cada um em sua residência, tais como os músicos e os demais componentes da banda, entre todos somavam 25 pessoas, incluindo alguns familiares, parentes dos músicos.
Quando não conhecíamos o local em que íamos nos apresentar, trocávamos ideias a respeito, e nos perguntávamos, será que vai ser legal? Ficava a duvida, mas enfim, nesta vida de musico, acabamos tendo muitas surpresas nos locais em que apresentávamo-nos.
Ônibus abastecido no Posto 6 – trevo da Via Anhanguera, e com o Cardoso no volante, íamos pegando a estrada, não sendo muito longe, apenas 55 quilômetros distante de Porto Ferreira, no máximo 45 minutos já estaria na tal boate.
Vamos rodando pela estrada afora, e logo passamos pelo pedágio de Pirassununga, tempos depois já chegaríamos no trevo de Leme, e entrando na vicinal (estrada de terra), que nos levaria a boate, que por sinal, o que víamos pelo caminho era um canavial sem fim, e o cheiro de vinhoto impregnado pelos ares, misturado com poeira vermelha.
Enfim chegamos no local, que parecia mais um curral de gado, como de fato, neste local eram realizados pequenos leilões. Um enorme galpão de madeira, com porteira e tudo. Alguém abriu a porteira, fomos entrando com o buzão. Para adentrar foi preciso manobrar com muita pericia, em razão de ser um local acidentado com muitos buracos, mas conseguiu.
Uma vez nas dependências da boate, o ônibus foi encostando bem próximo da entrada, por trás do salão, e de lá, íamos descarregando os apetrechos, tais como, instrumentos musicais, equipamento de som etc., e a chuva que Deus mandava, na imensa escuridão da noite.
Para nossa surpresa, ouvíamos o mugir do gado, vindo ao nosso encontro, e logo alguém tascou um comentário. Se não tiver público pelos menos as vacas vão dançar. Um belo palco bem no centro, enfim bonito por dentro e feio por fora.
Entre descarregar e montar os equipamentos, foram 45 minutos, isso com todo mundo ajudando. Como sempre, nós somos os primeiros a chegar e os últimos a ir embora.
Aos poucos os dançarinos iam chegando, belas mulheres, com suas indumentárias de gala, ostentando certa riqueza, mas nós deduzimos este tipo de roupa não combina com o local, por ser Zona Rural.
A chuva caia torrencialmente e mesmo assim a presença do público foi muito grande, lotou totalmente as dependências da boate caipira. Num ambiente deste tipo tivemos que mudar o repertório (musicas), enfim foi mais um show do que um baile.
Tocamos mais ou menos 1h30m, e percebemos que o publico entravam num reservado e iam embora, não estavam nem aí com o show. Um dos componentes da banda, dirigiu ao banheiro pra desaguar, e nesse ínterim veio um camarada pedindo a ele pra enrolar qualquer coisa, e no ato, ele retrucou se for droga, to fora, o camarada ficou sem graça e deu no pé.
O povão se mandou, e sem público, a solução é enfiar a viola no saco e picar a mula. Tudo de novo, vão desmontar peça por peça, e ir carregando para dentro do ônibus, e a chuva caindo sem parar.
A questão agora era sair dali, tudo alagado, o Cardoso liga a chave no contato e nada do buzão pegar. Disse ele, xi acho que a bateria pifou.
Tivemos que descer embaixo de chuva e empurrar, tentando pegar no embalo. Empurra que empurra, nada de pegar, e nisso um ou outro musico da banda caia dentro de um buraco, sumindo no meio da lama com bosta de vaca, isso acabou quebrando o gelo, motivo de muitas gargalhadas entre nós, e o que mais se lambuzou foi o Ronilson (saxofonista).
Na sequencia de cenas engraças, de sumir gente ao cair nos buracos, alguém chamou um guincho, que com muito sacrifício conseguir puxar o nosso buzão, e tirar dali, e por sorte pegou no tranco. Até hoje ninguém recebeu o cachê do show na boate caipira.
Tempos depois, descobriram que o problema não era a bateria, era sim uma abelha que vedava a passagem do óleo combustível para o motor funcionar. O motor do ônibus ficou muitos anos exposto ao ar livre dentro de um ferro-velho, foi o motivo da pane.