Crônica da Meia Noite (Procedamus in pace In nomine Christi, Amen )
A nevoa esbranquiçada e densa se dispersa na penumbra da noite, levando aos confins do silêncio o aroma das horas cálidas antecedentes ao sono dos amantes.
Mas, na proteção de um crucifixo, resiste ao assalto carnal o pobre guardião dos costumes.
Rasga a própria pele em penitência e oferta seu sangue em remição.
Mas, a serpente atravessa as paredes do mosteiro, esgueirando-se pelas arestas abertas por homens imprudentes.

Ela veste vermelho e suas mãos são queimadas pela cera quente que escorre da vela que ilumina seus passos pelo o corredor húmido e escuro.
O pecado se aproxima e sopra seu hálito perfumado e sussurrante ao ouvido do pobre homem, que se escandaliza com os pelos ouriçados de seu corpo. Sente a brisa gélida da noite em sua face, treme de frio. Um frio que nem a própria morte ousaria se quer imaginar existindo em sua desdita onde ceifa fôlegos.

Todos que discorrem seus olhos ligeiros e maldosos pela descrita desta empresa, ficarão esperando a parte em que o pobre cristão, enlouquecido de desejo, aprisiona a Dama de vermelho em seus braços e a sufoca no furor de seus beijos, todos intentaram para sua pele ouriçada, mediaram em suas mentes a chama da libido acendendo-se no corpo de um ser que jurou fidelidade para com Cristo!
Enganaram-se...
Os leitos cálidos dos amantes não são perfumados pela luxuria imposta ao ato sagrado de um homem adentrar em uma mulher, o domínio e a aspereza dos sentimentos estão nas intenções e a gula em ser santo não se difere dos atos impuros que todos comentem para se chagar a prática de um ato sagrado.

A oração minguada aos pés da santa cruz, morre na percepção do orador que de uma hora para outra deixa esvair sua fé e percebe-se falando sozinho. A ciência do bem e do mal, e o conhecimento sempre nos afastou de Deus, e por isso o castigo do homem, por saber demais, foi lavrar a terra e domina-la; a sabedoria cujo Senhor quis nos esconder saiu do seio instigante da mulher que deu ouvidos a serpente, que tão somente era o espirito humano procurando donde repousar... E quando descobrimos o fogo por tanto tremer no frio da própria fé, percebemos que já fomos criados como sendo burladores das leis humanas e divinas. Isso nos isenta da culpa quando nos descobrimos corruptores. Quando descobrimos a necessariedade da existência do mal para que o próprio bem exista, a variante de uma equação, e ainda amamos em algo o Criador, então nos tornamos agentes da escuridão em nome de um bem maior chamado amor! Em nome da própria existência do Senhor. Segundo suas palavras, os anjos não evoluem porem não involuem, então esqueçam o sonho de que são anjos caídos, Anjos não caem!
Compreendem?
E tudo isso é para que viver faça sentindo ao sentir dos pequeninos pássaros que ainda não sabem voar.
Por fim... Estrelas são apenas bolas de gases, matéria prima da vida girando e girando no próprio eixo enquanto queimam desmedidamente seus recursos... Por que buscar tanta razão no que não precisa ter razão?
Homens não são estrelas, somos um ensaio doidivanas do colidir de átomos que do caos gera a ordem... E pela necessariedade da existência do mal, não tentem tornarem-se santos, caiando vossas almas de branco e guardando podridão no coração, por um acaso é cego o Juiz?
Foram criados com o proposito de quebrarem regras e costumes!
Diante tal pensamento, seria a Dama de vermelho diferente de um anjo alvo e de asas prateadas?
O tudo é aquilo que crer nossos olhos!
Não nos dividimos por qualidades e defeitos, somos divididos por ego e vaidade, quem seleciona o que é certo e errado se não nós mesmos?

Contudo, não sejamos desmedidos, equilíbrio na balança, não deve pesar nem em luz , muito menos em trevas, com classe e justiça, intermediários entre a Serpente e o Leão.
Agora podem saber que o cristão do inicio da narrativa deixou cair o crucifixo e ali mesmo, aos pés do Cristo, despiu a Dama de vermelho e a tomou para si no chão frio da capela, entre velas e incensos...

Amem!






 
 
 
Noah Aaron Thoreserc
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 06/05/2013
Reeditado em 06/05/2013
Código do texto: T4277140
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