ADEUS CABOCLA...
A vaca Cabocla que em três ordenhas produzia brincando, 50 litros de leite por dia, um latão cheio sozinha já foi prosa aqui na coluna. Cabocla foi diagnosticada como vaca maninha (vaca que não pega cria) por seu dono anterior, foi encaminhada ao matadouro para a tristeza de todo o rebanho que tinha ela como a estrela do curral. Só que no meio do caminho tinha um Grilo, tinha um Grilo no meio do caminho. Tirador de leite do tempo do “Orofeu” Grilo bateu os zóios na vaca dentro do caminhão e no ato, comprou-a. Passado três meses, Cabocla dá a luz a um lindo bezerro desgarrado, com estilo de reprodutor, quando desmamado foi bem vendido pela genética que apresentava. Do caminho ingrato do matadouro ao estrelato nos torneios leiteiros foi tudo muito rápido. Ingrato o matadouro por que uma vaca de leite que ajuda a criar tantas crianças não poderia jamais acabar na marreta... Merecia um repouso no pasto até morrer de morte morrida. Cabocla com o apoio das colegas partiu confiante para Cajuru e trouxe o caneco de primeira colocada na categoria girolanda produzindo 56 litros de leite por dia! No ano seguinte se apresentou no torneio leiteiro de Santa Rosa, onde seria campeã, não fosse Grilo ter saído do torneio no segundo dia, por desalinho ao regulamento se atrasou e fora desclassificado. Depois de passar por uma inseminação artificial Cabocla pariu uma linda bezerra que futuramente tem tudo para ser campeã como a mãe... Essa semana o inesperado aconteceu, Cabocla foi passar pelo casqueador para fazer as unhas que estavam meio grandes e ficar mais bonita para participar do torneio leiteiro em abril próximo. Deitada no tombador seus cascos foram aparados, na hora de descer, o desagradável e triste acontecimento... Cabocla que estava com o estomago cheio, ao ficar deitada no tombador teve um refluxo causando uma embolia pulmonar. Não conseguiu firmar-se em pé e caiu morta... Grilo bambeou as pernas, os zóios se encheram d’água e o curral inteiro se abalou com a morte da rainha do balde. O touro Soberano chorava igual criança:
- Não Cabocla! Você não morreu! Acorda Cabocla! Isso só pode ser um sonho... Meu Deus, a Cabocla não, leva eu!
O silêncio tomou conta dos sitio e Grilo desconsolado chorava abraçado as filhas que choravam mais que ele...
A vaca Meia-noite uma das melhores colegas de Cabocla proseou na despedida:
- Vai com Deus Cabocla, você será sempre lembrada pela sua mansidão, pela sua humildade, nunca vi você estufar os peitos e contar vantagem quando ganhava os torneios, sempre na sua... (choro) Sempre será a rainha do curral, descanse em paz colega, vai com Deus...
PS- Essa crônica foi escrevida o ano passado. Osmar dos Santos popularmente conhecido como “Grilo” e falante é claro, é produtor de leite e essa vaca foi grande campeã e o fato foi acontecido. Há 20 anos rabisco minhas prosas e colaboro com os jornais daqui da minha Terra Querida Santa Rosa de Viterbo!! A mió do mundo!Abraços caros leitores.