Migalhas

Tentando encontrar algum sentido, soprava as migalhas dos sentimentos que já havia tido contra o vento, e de volta Juntava alguns ciscos, e fazia alguns versos, tentava rimas, de modo que aquilo pudesse de alguma forma explicar ao mundo o que sentia, mas era inútil. Ninguém os queria pois as pessoas são fúteis, não querem sentidos ou sentimentos, nem na musica, nem na prosa, nem na poesia, ou na rosa pretensiosamente roubada de algum jardim; não querem dividir. Só querem algum entretenimento, alguma coisa para passar o tempo, como em uma rede social da internet, solitário, algo que não corroa os ouvidos como o maldito tique-taque de um relógio, ou perturbe a mente como a fria matemática de um calendário pendurado na parede, algo real, algo físico. Onde já é dia cinco, e é mais um outono, somando os dias e subtraindo o tempo a madrugada novamente toma-lhe o sono como se não tivesse o direito em tê-lo.

A barba cresce, e os fios brancos denunciam os fracassos que não conseguiram atingir a pele, mas tomaram-lhe alguma vida; se parar para pensar, não é tão mal assim, menos tempo para passar diante da televisão, do computador. Entretenimento, apenas um passa tempo entre o trabalho e o tédio, algo que o faça esquecer os sentimentos que nem sequer conseguia explicar, e assim, como todos os outros, sem ninguém para dividir qualquer coisa melhor, tenta ser fútil, tenta esquecer, e sopra contra o vento as migalhas dos sentimentos que já havia tido, e de volta aquilo se torna um furacão, mais frustração, mais cabelos brancos, mais calendários, mais entretenimento, mais futilidade e nenhum sentido, e já não se fazia mais nada, nenhum verso, nenhuma tentativa de rima, explicar o quê, para quem?

Demá
Enviado por Demá em 05/05/2013
Código do texto: T4275520
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