MANAUS COMO VI, VIVI E REALIZEI MEUS SONHOS!

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Deixei para trás meus nove anos vividos na comunidade de Varre-Vento, apanhando ou juntando frutas caídas nos pés cajá, que existia na fronteira de nosso terreno, manga que podia ser apanhada pela janela de nossa casa, goiaba e graviola que cresciam no terreno do quintal, cacau nativo de meu avô, sapotilha no terreno de minha avó, mas que só servia para os porcos comerem, tal era a fartura. Hoje, se cultivada em escala comercial, com intensidade e com incentivo público, poderia se transformar em renda para as famílias pobres do interior, pois é melhor do que pêssego em caldas ou abacaxi conservado em latas. Mas abandonei toda essa minha vida tranquila e inocente em busca de estudos na capital do Estado, de pouco menos de 200 mil habitantes, apenas quatro depois do Golpe Militar.

Enquanto deixava tudo isso para trás, vendo-os desaparecer na linha do horizonte delineada pela minha visão, minha mente deslizava em pensamentos sobre o que encontraria em Manaus, enquanto o motor regional ia ferozmente cortando em embicando na proa as águas do Rio Amazonas, também chamado de Solimões em algumas de suas partes. Desapareceram de mim, também as lembranças das luzes de velas, lamparinas, arapongas...à medida que o motor deslizava fazendo fumaça e barulho pelas curvas ou desvios do rio, que era obrigado a fazer devido o mato ou toras de árvores que também disputavam espaço com a embarcação.

Depois de um dia e meio de viagem, vendo desaparecer de minhas lembranças às luzes de lamparina que existiam ainda em meu peito, ouvindo apenas barulho ensurdecedor do motor que não me deixava dormir na rede que armara, comecei a avistar primeiras luzes desconhecidas, mas sabia serem luzes da capital e fiquei alegre, pensando que logo desembarcaria – mas demorou ainda mais de uma hora até parar no porto da cidade, onde atracavam todos os barcos na época. Parou rapidamente em um porto antes, mas ninguém desceu! Depois descobri que era o porto onde os aviões anfíbios da Panair do Brasil S/A realizavam seus pousos, mas que até hoje os barcos regionais param no local para pegar ou deixar passageiros.

Em Manaus, fui recebido pela voz potente do locutor Kimura, da “Voz Praiana”, que anunciava a chegada e partida de motores regionais, além de fazer propagandas de lojas estabelecidas na área do Porto que vendiam produtos destinados à vida no interior. “Armazéns Portela”, que vendia de tudo um pouco, “Importadora TV Lar”, que comercializava motores de popa, “Moto Importadora” que também comercializava motores de popa e muitas outras não saíam, também dos anúncios da “Voz Praiana”.

Carros tipo fusca e muitas carroças que deslizavam seus pneus sobre ruas calçadas por paralelepípedos, eram uma constante nessa época. Fiquei fascinado e pensando “é nessa capital que realizarei meus sonhos”. Enquanto me dirigia à casa de minha madrinha Natércia Januário Calado, no bairro do Morro da Liberdade, observava meio abobalhado, antes dos pneus havia uma coisa brilhante, de forma redonda no qual meu rosto ficava desfocado ou ficava redondo fazendo que eu parecesse gordo com meus 27 quilos de peso, ainda.

Depois, muito depois, soube que o carro que me transportara em 1969 se chamava táxi e que o que tinha despertado a atenção de forma inocente, se chamava calota. Mas que era lindo ver meu rosto pela primeira refletido em algo redondo, ah, isso era, porque em Varre-Vento, sequer tínhamos um espelho para olhar nossos próprios rostos. Ah, tinha um sim, mas era só usado pelo meu pai para fazer sua barba e não se cortar com a gilete, que deslizava suavemente em seu rosto!

carlos da costa
Enviado por carlos da costa em 05/05/2013
Reeditado em 05/05/2013
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