Clube Atlético Mineiro e a estranha forma de amar dos cruzeirenses.
Na boa, acho que cada cruzeirense verdadeiramente mineiro, tem uma paixãozinha escondida no armário pelo Galo, mas é uma espécie de Santo Graal. Vamos à onomástica das coisas, a que trata dos nomes, pois dizem que a palavra tem poder. Cruzeiro é nome de uma constelação, ou seja, algo visto apenas à noite, mesmo assim quando descoberta de nuvens, alcançável somente pela poesia. A constelação é inatingível pelo toque, resta-nos pouco consolo. Quando se diz "dou-te uma estrela", sabemos que não passará destas poéticas palavras, e tentar, depois, substituir o prometido por outra coisa.
O Cruzeiro, antes, chamava-se Palestra Itália, pouco original para um estado brasileiro, ou digamos, província que a coroa portuguesa praticamente lacrou os caminhos, afastando qualquer experimentação de golpe ou invasão de holandeses ou franceses em suas minas, tornando-nos, aos poucos, um povo dentro do Brasil muito peculiar, carinhosamente chamado pelos demais brasileiros de "os mineirinhos ".
E então surge o Atlético... meu Deus: M i n e i r o ! Tinha que ser mineiro? O Atlético sempre chamou-se mineiro, o Atlético Mineiro, enfim. As cores que os dois times carregam são diferentes. O azul é remetido aos remancescentes da "azzurra", italianos como Rossi e Zoff, carrascos do Brasil. A diferença entre as cores da camisa do Atlético, preto e branco, traz-me o antagonismo entre a liberdade e servidão, propósitos discutidos pela Inconfidência Mineira. Mais uma vez, eis mineiridade numa mensagem subliminar entre as listras da camisa. O mascote, o galo, que canta ao alvorecer de um novo dia na roça mineira é antagônico à raposa, que uiva na noite, a espera que o dono adormeça e caia na bobeira. Os cartunistas retratam o simpático galinho atleticano com três cores fundamentais : o branco, o preto e o vermelho da crista e a barbela, ou seja, as mesmas cores da bandeira de Minas Gerais.
Quando o Atlético perde, como ontem para o São Paulo, num horário tão tarde, foguetes explodiram pela Belo Horizonte que dormia, provavelmente por mãos que, na calada do quarto, em segredo, abrem a porta do armário e acariciam delicadamente uma camisa com listas pretas e brancas, no fundo de uma gaveta, sob um sussurro mineiríssimo e confidente:
- Camisa mineirinha, sô... - os cruzeirenses também amam o mineiríssimo Atlético; enfim, de uma forma estranha, mas amam. A frase latina "Libertas Quae Sera Tamen" dá-lhe voltas à cabeça, e o cruzeirense vai resistindo. Até quando? Mas como dizia Milton Nascimento, "qualquer maneira de amor vale a pena". A Libertadores continua no dia 1º de maio! Preparem mais foguetes, o vosso time mineiro entrará em campo.