Crônica da rua
Na calçada do condomínio onde moro, sentado em uma velha cadeira, está um homem. Um pobre homem e seu cão. Ambos parecem tranquilos, confortáveis.
O homem tem um prato de comida no colo e se alimenta. O cãozinho espera paciente, sabe que seu dono lhe tem afeto, está bonito e bem cuidado, logo se vê.
Pelo que sei, o homem mora na carroça, que ele mesmo carrega pesada de entulhos de toda a espécie.
Percebo dignidade em sua pessoa.
Dia destes, voltando do super mercado fui interpelada por uma mulher moradora também do condomínio. Perguntou-me o que eu achava daquele homem ali, junto a cerca do edifício, respondi que entendia que os condôminos o haviam adotado. Ela retrucou que não estava certo, ele que se instalasse em outro lugar. Argumentei que ele não fazia mal para ninguém, não incomodava e ainda perguntei se ela não achava que ele até ajudava, com seu cãozinho a cuidar da gente
Ela falou que para isto pagamos os guardas. Então senti que meus argumentos talvez fossem fracos para enternecê-la e desisti.
Este episodio, comum entre os habitantes de nosso planeta me fez um pouco mais triste.
Como estas pessoas afortunadas de bens materiais, podem ser tão pobres de espírito?