Somos Tão Jovens
Vou chocar quem ler o que direi logo ao final dessa frase, mas a impressão que eu tive é a de que: Renato Russo era um porre como pessoa.
Passado o choque, faz importante ressaltar que nesses filmes biográficos é sempre bom ter um pé atrás. Que nem no filme do Cazuza: ele não foi retratado lá como realmente era. Logo, mais uma vez, corre-se o risco de o diabo não ser tão feio quanto o pintam. Ou tão bonito. Eu não conheço da biografia do cara, então, fico refém do que vi na telona poucas horas atrás (porque sei que no fim de semana o cinema estará um caos). Não vou falar do Renato, do Aborto e nem do Legião.
Vim falar sobre aleatoriedade. O que é uma droga, porque já citei brevemente nesse outro texto e não quero parecer repetitivo, mas veja, é curioso perceber como as coisas funcionam.
Brasília, final da década de 70. No Brasil, ditadura militar. Na gringa, a música faz história com o rock e, como se percebe no filme, com o punk. O que culminou no movimento das brandas de Brasília foi tudo isso: o momento, a inspiração, e, claro, as pessoas para fazerem isso. Pessoas essas que tinham pais ou eles mesmos viajavam para fora e, só então, sabiam do movimento punk na Inglaterra e de toda a quebra de regras que o som sujo trazia consigo. Até tem uma cena do Renato Russo procurando por discos do Sex Pistols em lojas do Brasil e não encontra.
Naquela época não tinha internet.
Outra cena que retrata a falta de comunicação global e instantânea (esse sim talvez possa ser considerado o mal do século. Ou pelo menos até aparecer outro pior) é a da morte do John Lennon - anunciada no Jornal Nacional pelo Cid Moreira. Se fosse hoje em dia, estaria em primeiro lugar nos TTs mundiais: #RIPJohn.
Enfim, o Renato Russo gostava do punk e criou uma banda do tipo: o Aborto Elétrico. Foi o primeiro passo para o surgimento de tantas outras, principalmente a Plebe Rude e o Capital Inicial (ambas constam no filme). Mas nem tudo são rosas e depois de uma treta o vocalista saiu, foi pra carreira solo, etc. O filme acaba com um vídeo do Legião Urbana original tocando no Rock in Rio de '85. Só pra localizar, a trama se passa de '76 a '82. É curioso ver o cuidado que tiveram com placas amarelas de carros, o logo antigo da antiga Kibon num caminhão logo no começo do filme, os aparelhos de som, tudo.
Mudando o rumo da conversa, existem historiadores que dizem que a História é cíclica. Ou que, pelo menos, alguns eventos são cíclicos. O que eu quero dizer é: pegando como foco esse passado recente brasileiro, tivemos um período de ditadura, o pessoal não gostou, houve revolta, caras-pintadas, diretas já, etc. A coisa se estabilizou e os anos '90 e '00 foram de calmaria. Daí no começo dos anos '10 do século XXI o que você tem no país: escândalos, corrupção a milhão, uma internet que não dá descanso (e que, por isso, querem censurá-la!), bandidos que são eleitos e roubam dinheiro público, pastores que fazem suas ovelhas de massa de manobra e dizem atrocidades, o mensalão, Dirceu, Valério, não duvido que a casa ainda vai cair pro lado do Lula, um outro pastor que briga com um geneticista... sabe, tudo isso é uma bola de neve, um embrião. Uma hora isso vai explodir.
E nós veremos isso.
E eu não vejo a hora.
Aliás, o ator que faz o Renato Russo é excelente. Eles (o cantor e as pessoas ao redor dele) viviam no que a literatura chama de beat (um exemplo clássico é o On The Road) mas que atualmente é chamado de V1D4 L0K4. O que, pelo menos eu, acho curioso é que hoje, num mundo onde temos internet e uma torrente de informações vindo de todos os lados a toda hora, nós vivemos de outra forma. Claro, não poderia deixar de ser, mas ainda assim, até os que se mostram revolucionários entre nós de hoje são meio bunda-moles, convenhamos. Não sei, eu tenho essa impressão. Posso estar errado e provavelmente estou.
Mas enfim, temos todo o tempo do mundo.
-G-