Trecho do livro "Histórias de Jorge, o Batuta"
"...Capinava quintais, fazia canteiros, adubava fruteiras
nos quintais dos vizinhos e levava recados de
uma para outra casa.
Era assim:
– Menino, chega aqui.
Eu ia satisfeito.
– Dou-lhe um tostão para ir lá no córrego chamar
a Bastina pra mim.
– Corre lá e avisa pro Salomão que Zé já chegou
de Pires do Rio.
– Vá até a loja do Habib buscar “goma” para eu
fazer pão de queijo. Rápido! Um pulo lá, outro cá. Ou
então diziam: Vá e volte antes do cuspe secar!
E cuspiam no chão. Era muito comum cuspirem
no chão para obrigar as crianças a serem mais espertas.
Como o serviço estava aumentando, contratei o
Chafi, meu irmão mais novo, para me ajudar, pois eu
continuava com a tarefa de bagageiro e agora havia incorporado
mais uma: a de cicerone-carregador, uma
espécie de acompanhante dos vendedores ambulantes
pelo comércio da cidade. Era minha também a tarefa
de informante. Antes de meus clientes chegarem eu
dava um giro pelas lojas para ver onde é que estava
precisando de mercadoria.
– Lá no Salim acabou a linha de anzol e o arame.
– No armazém do Gibrim não tem mais café nem
arreio.
Os viajantes iam direto ao assunto, vendiam a
mercadoria e até me davam mais uns cem réis pela
informação.
Quando chegava a casa, entregava todo o dinheiro
recebido para minha mãe. Ela o guardava
no cofre que o carpinteiro Nego Cavalcante fez para
mim.
Ele também fez um peão com duas pontas bem
afiadas para eu jogar “carne viva” com os outros meninos.
A brincadeira consistia em lançar o meu peão sobre
o do adversário, para destruí-lo ou danificá-lo. Era
uma questão de habilidade, que ia se aperfeiçoando à
medida que treinava.
Por causa do trabalho com os viajantes, comecei
a sentir a necessidade de leitura. Fazer contas já sabia
de cabeça10. Então resolvi pegar as cartilhas velhas e
estudar sozinho."
Sandra Fayad Bsb
Enviado por Sandra Fayad Bsb em 03/05/2013
Código do texto: T4272445
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