SOU CINÉFILO

 
          Creio que seja a hora de revelar uma paixão reprimida que me acompanha desde a infância, quando os olhos brilhantes de outrora já se encantavam com a projeção de cores e movimentos na tela grande, enquanto a boca falastrona se enfartava com pipoca amanteigada e refrigerante.

          No escuro do cinema São Luiz - entre cochilos e sustos – sonhava acordado com as Tartarugas Ninjas e Os Trapalhões. Este amor, por muito tempo não compreendido, cresceu e tomou conta de minha pobre alma. Sem pudor, nem pesar, e com orgulho, grito ao mundo: Cinema, não sei viver sem ti! Sétima Arte, tu és um dos grandes amores de minha vida!

          O cinema é a arte do encanto, da magia e dos sonhos impossíveis; sua natureza democrática apaixona independentemente da idade, cor, classe social, orientação sexual ou dogma religioso; sua linguagem é universal, e seu canal de comunicação é a própria natureza humana. Romance, drama, comédia, ficção científica, suspense, ação, animação... Todo gênero e filme são grandiosos quando há identificação entre a “película” e o espectador.

          Hoje, entre choros, gargalhadas, sustos, decepções e expressões faciais diversas, transita a emoção por minhas veias; vivencio com intensidade cada sessão assistida; e incorporo um crítico cinematográfico ao me notar analisando o roteiro, trilha sonora, atuações, fotografia, entre outros detalhes. As premiações anuais são um martírio, seja o Oscar, Globo de Ouro, Bafta, ou qualquer outro prêmio, acompanho na torcida fervorosa pelos meus favoritos; embora na maioria das vezes, a campanha de divulgação sobreponha ao talento dos idealizadores.

          Emociono-me cada vez que assisto Cinema Paradiso; deixo minha imaginação criar asas e sinto-me como o garoto Totó, encantado pela mágica sensação da sala de cinema. Assusto-me, involuntariamente, com Um Corpo que Cai (do mestre Hitchcock), O Sexto Sentido, O Orfanato e A Ilha (do Scorcese), suspenses brilhantes, sem o truque da carnificina. Choro horrores com Mar Adentro, Regras da Vida, O Menino do Pijama Listrado, Filadélfia e Menina de Ouro. Tenho vontade de sair correndo e agarrar minha namorada com: Uma Linda Mulher, Ghost, O Guarda-Costas e Titanic (todos com canções inesquecíveis), bem como Um Lugar Chamado Nothing Hill, Doce Novembro, Outono em Nova York e P.S. Eu te Amo. Acabo-me em risadas com Uma Babá Quase Perfeita, Esqueceram de mim, Os Trapalhões, Loucademia de Polícia, American Pie, De Pernas Para o Ar e Se Eu Fosse Você. Fico com os nervos a mil por hora com: Missão Impossível, Velozes e Furiosos, O Senhor dos Anéis, Piratas do Caribe, Duro de Matar, Avatar, Batman e todos os filmes da Marvel (adoro super-heróis).

          Grandes clássicos também povoam minha memória cinéfila com boas recordações: A Doce Vida, Amacord e 8 e ½, do sensível Feline; Persona, Morangos Silvestres e O Sétimo Selo, do excelente, introspectivo e existencialista Ingmar Bergman; o lindo romance Doutor Jivago, adornado com o “Tema de Lara”; a monstruosa trilogia de O Poderoso Chefão e Apocalipse Now, com a direção impecável de Copola; Rock Balboa (Quem nunca se pegou cantando: pan pan pan, pan pan pan?); Fargo (dos irônicos e sarcásticos irmãos Cohen); os aclamados Cidadão Kane e Casablanca, realmente fantásticos, suprassumos; Uma Rua Chamada Pecado (provocante para a época); Tempos Modernos (crítica social do magistral Chaplin); Assim Caminha a Humanidade e Juventude Transviada, ambos com James Deen atuando com intensidade; Laranja Mecânica, O Iluminado e 2001: Uma Odisséia no Espaço, do impactante, incrível e genial Stanley Kubrick; e vários outros, mas me falha a memória.

          Almodóvar é um capítulo à parte: A Pele que Habito, Tudo Sobre Minha Mãe, Carne Trêmula, Volver e Mulheres à Beira de Um Ataque de Nervos são demais; Wody Allen também é um admirável diretor: Match Point, Vicky Cristina Barcelona e Meia Noite em Paris são ótimos. As animações da Disney/Pixar e DreamWorks também chamam minha atenção: Montros S.A., Procurando Nemo, Wall E, Up, Ratatuille e Shrek. Cada filme desenvolve um enredo e transmite sua mensagem de forma peculiar.

          A Revista Bravo proporcionou-me a opção de escolha entre os 100 maiores filmes da história do cinema (pelo menos para os críticos dela), dos quais assisti quase metade da lista; se o tempo - e os compromissos profissionais – me permitirem, ainda concluo a relação toda. Muitos dos que mencionei foram indicados pela edição da revista, e aconselho essa seleção para quem quiser se aprofundar no universo cinematográfico, bem como se banhar nos mares de culturas e cores diferentes; da sensibilidade humana aflorada.

          Deixo claro que o Brasil também produz ótimos filmes, embora sejam colocados em segundo plano e esquecidos do grande público; Tropa de Elite é exceção. Sugiro: Abril Despedaçado, Heleno, Central do Brasil, O Quatrilho, Bicho de Sete Cabeças, O Palhaço, Amarelo Manga, Deus e o Diabo na Terra do Sol, entre muitos; a propósito, Pichote integra a lista da Bravo, contudo ainda não o assisti. Entristeço-me apenas ao constatar que os preços dos ingressos afastam os espectadores das salas de cinema do país, incentivando consequentemente a pirataria. Já se foi o tempo em que o bom filme era assistido duas, três vezes ou mais por quem se apaixonava loucamente por ele; hoje, uma única ida ao cinema é um grande feito.

          Recentemente, compartilhei suspiros de encantamento - ao lado de minha amada - assistindo Amor, O Lado Bom da Vida, Pequena Sonhadora, Argo e Os Miseráveis; fiz brotar do âmago de sua alma a mesma paixão que me corrói, e o bom é que não cultivei o ciúme, senão seria minha morte.

          Cinema é cultura e conhecimento, é um universo colorido em meio à uma realidade acinzentada; por isso afirmo - com propriedade - que grande parte do pouco que sei, e sou, tem relação direta ou não com os filmes que assisti; com essas histórias que acreditei e deixei fluir em minha mente. Infelizmente, nossa sociedade não possui hábitos culturais consistentes, sejam em relação a filmes, livros ou peças teatrais (sei que os preços dos ingressos também não ajudam), mas nossos jovens (principalmente abastados financeiramente) só valorizam o descartável, que instigue o pouco pensar, e isso é fato. A Sétima Arte é uma das minhas grandes paixões - e assim como a literatura - enquanto vida eu tiver, pretendo cultivá-las, renová-las e amá-las. Minha vida é um filme em produção, de gêneros mesclados, que certamente terá um final feliz. Viva o cinema, eternamente!

(Imagem: Cena do filme Cinema Paradiso - Internet)
Robson Alves Costa
Enviado por Robson Alves Costa em 02/05/2013
Reeditado em 09/05/2013
Código do texto: T4270783
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