Meu neto Matheus já dominando a arte de pescar pra aliviar os nervos para poder ter sonhos de doido e ousar nas futuras invenções!
Você Pode Sim Matheus!
A Vó Bete tinha um compromisso naquela terça-feira que não dava pra cancelar e assim, mais uma vez a Vó Patricia foi convocada a cuidar do Matheus por que a escola dele teria a reunião pedagógica mensal das professoras.
Matheus chegou por volta das 9:00 junto com a mãe dele, a minha filha caçula. Matheus estava atento ouvindo as recomendações da mãe quando eu perguntei se ele queria tomar um suco e comer uma fruta. Ele fez aquela carinha dele de quem não quer nada e perguntou se tinha Danoninho. Respondi que não mas, tinha uns biscoitinhos de queijo. Ele deu aquele sorriso maroto dele e fomos à cozinha mas antes, ele beijou a mãezinha dele e deu tchau.
Já na cozinha, o papo rolava com o Matheus. Perguntei como andavam os estudos. Ele tinha 5 anos, quase 6 nesta época.
Matheus falou que tudo estava bem mas, assim do nada ele me contou com os olhinhos arregalados:
"Sabe Vó, tive um sonho muito do doido! Sonhei que tinha inventado uma máquina ... "
O Matheus continuou a contar o seu sonho e eu, como toda avó coruja, toda ouvidos, e também toda olhos, admirando o quanto o meu neto é espontâneo ao relatar seu sonho muito do doido.
Ao terminar o seu relato sobre seu sonho, falei para o Matheus que quando tivesse um sonho assim de novo, seria bom que assim que acordasse, pegasse seu caderno de desenho e rabiscasse as máquinas que ele havia criado nos seus sonhos. Ele disse, "Mas Vó, é tudo coisa doida! Pra quê vou desenhar?" Respondi, "Mas Matheus, é assim mesmo! Tudo no começo parece coisa de doido. Você vê o avião? Antes do avião, o Santos Dumont, o homem que inventou o avião, sonhou com outros tipos de máquinas voadoras e todo mundo achava ele um louco."
Fui correndo pra minha salinha onde guardo meus livros, jogos, revistas, buchingangas, etc. e fui à caça de um livro de pintar que tinha toda a história do Santos Dumont em imagens para colorir que comprei quando o meu filho tinha uns 8 anos. Hoje, ele tem 28! Toda vez que vou ao supermercado, dou uma olhada bem boa na banca de jornal porque estou sempre atrás de material para minhas aulas e também para meus netos. Venho procurando revistas e livros que possam mostrar e ensinar invenções, idéias, criatividade de verdade mas, o que mais tem é Barbie, Polly, Bratz, Pokêmon, Angry Birds, Justin Bieber, I Carly, Luan Santana ... e eu não sou fã de nenhum deles.
Achei o livro e mostrei pro Matheus cada página com Santos Dumont desenvolvendo a invenção dele. Matheus se encantou com os desenhos, os joguinhos e pediu para colorir. Como tenho uma copiadora, tirei cópias para o Matheus por que na certa a Dona Helô iria querer pintar os mesmos desenhos igual ao primo. Ele passou um bom tempo pintando e fazendo perguntas.
"Vó, o avião sempre existiu, né?"
"Não Matheus. Não existia avião antes do Santos Dumont. O homem só viajava de trem, navio, carro e bem antes de existir todo este meio de transporte era só à cavalo que as pessoas viajavam e ainda por cima, levava muito tempo pra chegar onde queriam chegar."
"Mesmo?"
"Mesmo! E hoje já tem engenheiros projetando novas formas de viajar."
"O que é projetar Vó?"
"Projetar é que nem inventar, desenhar no papel ou no computador. Em inglês se diz 'design'."
"Ah! O amigo da minha mãe falou que ele é 'design'."
"Acho que ele falou 'DESIGNER' querido. Design é projetar, desenhar o projeto e designER é a pessoa que projeta ou desenha o projeto. A pessoa é designER. Entendeu?"
"Sim. DesignER!"
"Isto mesmo, Matheus!"
O menino tem boa pronúncia! ; )
O dia foi bom demais. Fiz o almoço dos sonhos do meu neto: almondêgas recheadas com queijo ao molho de tomate, purê de batata, brócolis e arroz. Claro que o Matheus devorou tudo.
Ele saiu pra brincar no quintal com seus brinquedos e depois de algum tempo pediu a garrafinha de bolhas de sabão e lá fomos nós fazer bolhas.
"Será que aquela bolha vai longe Vó?"
"Hummmm...talvez até a casa da sua Vó Bete, né."
"Será?"
"Porque não?"
"Por que ela estoura rápido."
"As vezes não. As vezes uma bolhinha vai longeeeeeee!"
"Será que chega na praia?"
"Aí não sei Matheus mas, não é impossível. Pode ser que sim."
"Que nem desenhar uma máquina doida, né Vó?"
"É Matheus. Tudo é possível neste mudo de hoje."
O fim daquela tarde inevitavelmente chega quando a minha filha vem buscar o meu tesouro de neto. Conversamos um pouquito, minha filha e eu, e logo ela e o Mat (odeio este apelido dele! O-DEI-O!) vão embora mas antes, ganhei um belo abraço de urso do meu garoto além dum big beijo que me abasteceram de animo e aqueceram a minh´alma até o nosso encontro que seria no domingo.
No domingo chegaram cedo e houve tempo pra tagarelar sobre a semana que passou.
"E aí meu menino lindo! Como foram suas aulas esta semana?"
"Bom."
"Ué!? Só bom, Matheus? Porque só bom? Quando eu ia pra escola na sua idade eu achava maravilhoso todos os dias de aula!"
"Sabe Vó, desenhei uma das minhas máquinas e a professora perguntou o que era. Falei que era uma máquina que inventei mas aí ela falou pra parar com bobeira. Ela disse que a máquina nem vai existir."
"Mas, você falou que um dia poderia existir sim?"
"Aham. Disse sim mas ela disse que era coisa de doido."
"E você falou que o avião do Santos Dumont era também chamado de coisa de doido?"
"Falei sim mas, ela só respondeu 'Tá.' e foi sentar."
"Ahhhhhh. Entendi."
Encerrei o papo oferecendo uma maçã que o Matheus aceitou sem pensar duas vezes e fiquei a pensar com os meus botões:
Tenho 52 anos, mais do que meio século, e acredito que muitas máquinas novas vão surgir até eu completar um século inteiro. Creio sim em chegar aos cem anos por que estou bem de saúde e não abuso. Creio que teremos mais invenções novas por que o mundo pede renovação sempre. Mas, com uma professora assim que tira a criatividade de uma criança que tem sua própria imaginação, uma imaginação única, exclusiva só dela, não sei não.
A gente incentiva, empolga, imagina junto com os filhos e netos pra uma pessoa assim sem sal e sem açucar apagar sua chama?
Admirável mundo novo de Aldous Huxley!
Cadê você!???
Você Pode Sim Matheus!
A Vó Bete tinha um compromisso naquela terça-feira que não dava pra cancelar e assim, mais uma vez a Vó Patricia foi convocada a cuidar do Matheus por que a escola dele teria a reunião pedagógica mensal das professoras.
Matheus chegou por volta das 9:00 junto com a mãe dele, a minha filha caçula. Matheus estava atento ouvindo as recomendações da mãe quando eu perguntei se ele queria tomar um suco e comer uma fruta. Ele fez aquela carinha dele de quem não quer nada e perguntou se tinha Danoninho. Respondi que não mas, tinha uns biscoitinhos de queijo. Ele deu aquele sorriso maroto dele e fomos à cozinha mas antes, ele beijou a mãezinha dele e deu tchau.
Já na cozinha, o papo rolava com o Matheus. Perguntei como andavam os estudos. Ele tinha 5 anos, quase 6 nesta época.
Matheus falou que tudo estava bem mas, assim do nada ele me contou com os olhinhos arregalados:
"Sabe Vó, tive um sonho muito do doido! Sonhei que tinha inventado uma máquina ... "
O Matheus continuou a contar o seu sonho e eu, como toda avó coruja, toda ouvidos, e também toda olhos, admirando o quanto o meu neto é espontâneo ao relatar seu sonho muito do doido.
Ao terminar o seu relato sobre seu sonho, falei para o Matheus que quando tivesse um sonho assim de novo, seria bom que assim que acordasse, pegasse seu caderno de desenho e rabiscasse as máquinas que ele havia criado nos seus sonhos. Ele disse, "Mas Vó, é tudo coisa doida! Pra quê vou desenhar?" Respondi, "Mas Matheus, é assim mesmo! Tudo no começo parece coisa de doido. Você vê o avião? Antes do avião, o Santos Dumont, o homem que inventou o avião, sonhou com outros tipos de máquinas voadoras e todo mundo achava ele um louco."
Fui correndo pra minha salinha onde guardo meus livros, jogos, revistas, buchingangas, etc. e fui à caça de um livro de pintar que tinha toda a história do Santos Dumont em imagens para colorir que comprei quando o meu filho tinha uns 8 anos. Hoje, ele tem 28! Toda vez que vou ao supermercado, dou uma olhada bem boa na banca de jornal porque estou sempre atrás de material para minhas aulas e também para meus netos. Venho procurando revistas e livros que possam mostrar e ensinar invenções, idéias, criatividade de verdade mas, o que mais tem é Barbie, Polly, Bratz, Pokêmon, Angry Birds, Justin Bieber, I Carly, Luan Santana ... e eu não sou fã de nenhum deles.
Achei o livro e mostrei pro Matheus cada página com Santos Dumont desenvolvendo a invenção dele. Matheus se encantou com os desenhos, os joguinhos e pediu para colorir. Como tenho uma copiadora, tirei cópias para o Matheus por que na certa a Dona Helô iria querer pintar os mesmos desenhos igual ao primo. Ele passou um bom tempo pintando e fazendo perguntas.
"Vó, o avião sempre existiu, né?"
"Não Matheus. Não existia avião antes do Santos Dumont. O homem só viajava de trem, navio, carro e bem antes de existir todo este meio de transporte era só à cavalo que as pessoas viajavam e ainda por cima, levava muito tempo pra chegar onde queriam chegar."
"Mesmo?"
"Mesmo! E hoje já tem engenheiros projetando novas formas de viajar."
"O que é projetar Vó?"
"Projetar é que nem inventar, desenhar no papel ou no computador. Em inglês se diz 'design'."
"Ah! O amigo da minha mãe falou que ele é 'design'."
"Acho que ele falou 'DESIGNER' querido. Design é projetar, desenhar o projeto e designER é a pessoa que projeta ou desenha o projeto. A pessoa é designER. Entendeu?"
"Sim. DesignER!"
"Isto mesmo, Matheus!"
O menino tem boa pronúncia! ; )
O dia foi bom demais. Fiz o almoço dos sonhos do meu neto: almondêgas recheadas com queijo ao molho de tomate, purê de batata, brócolis e arroz. Claro que o Matheus devorou tudo.
Ele saiu pra brincar no quintal com seus brinquedos e depois de algum tempo pediu a garrafinha de bolhas de sabão e lá fomos nós fazer bolhas.
"Será que aquela bolha vai longe Vó?"
"Hummmm...talvez até a casa da sua Vó Bete, né."
"Será?"
"Porque não?"
"Por que ela estoura rápido."
"As vezes não. As vezes uma bolhinha vai longeeeeeee!"
"Será que chega na praia?"
"Aí não sei Matheus mas, não é impossível. Pode ser que sim."
"Que nem desenhar uma máquina doida, né Vó?"
"É Matheus. Tudo é possível neste mudo de hoje."
O fim daquela tarde inevitavelmente chega quando a minha filha vem buscar o meu tesouro de neto. Conversamos um pouquito, minha filha e eu, e logo ela e o Mat (odeio este apelido dele! O-DEI-O!) vão embora mas antes, ganhei um belo abraço de urso do meu garoto além dum big beijo que me abasteceram de animo e aqueceram a minh´alma até o nosso encontro que seria no domingo.
No domingo chegaram cedo e houve tempo pra tagarelar sobre a semana que passou.
"E aí meu menino lindo! Como foram suas aulas esta semana?"
"Bom."
"Ué!? Só bom, Matheus? Porque só bom? Quando eu ia pra escola na sua idade eu achava maravilhoso todos os dias de aula!"
"Sabe Vó, desenhei uma das minhas máquinas e a professora perguntou o que era. Falei que era uma máquina que inventei mas aí ela falou pra parar com bobeira. Ela disse que a máquina nem vai existir."
"Mas, você falou que um dia poderia existir sim?"
"Aham. Disse sim mas ela disse que era coisa de doido."
"E você falou que o avião do Santos Dumont era também chamado de coisa de doido?"
"Falei sim mas, ela só respondeu 'Tá.' e foi sentar."
"Ahhhhhh. Entendi."
Encerrei o papo oferecendo uma maçã que o Matheus aceitou sem pensar duas vezes e fiquei a pensar com os meus botões:
Tenho 52 anos, mais do que meio século, e acredito que muitas máquinas novas vão surgir até eu completar um século inteiro. Creio sim em chegar aos cem anos por que estou bem de saúde e não abuso. Creio que teremos mais invenções novas por que o mundo pede renovação sempre. Mas, com uma professora assim que tira a criatividade de uma criança que tem sua própria imaginação, uma imaginação única, exclusiva só dela, não sei não.
A gente incentiva, empolga, imagina junto com os filhos e netos pra uma pessoa assim sem sal e sem açucar apagar sua chama?
Admirável mundo novo de Aldous Huxley!
Cadê você!???
"Facts do not cease to exist because they are ignored."
- Aldoux Huxley
"Fatos não deixam de existir por que eles são ignorados."
Meus tesouros e tesourinhos!