DO MOTEL PARA O HOSPITAL
Quem ler o título desta crônica logo pensará que se trata de um acontecimento trágico, de um acidente qualquer motivado por uma traição. Para evitar taal concepção quero deixar bem claro que, neste caso, o motivo foi sim uma situação de infidelidade e não propriamente uma tentativa de assassinato tentando lavar a honra com sangue, o que acontece muito nos dias de hoje, infelizmente. Vamos os fatos:
Uma pessoa casada considerada fiel e ilibada por todos até provar ao contrário foi acometida subitamente por uma paixão arrebatadora por outra. Paixão esta que não ficou só na teoria, troca de mensagens, telefonemas e conversas esporádicas. Pelo o contrário, foi logo consumada com encontros íntimos, fortuitos, onde os subterfúgios para tais eram sempre com justificativas vazias, mas mesmo assim, ela conseguia ludibriar o cônjuge traído, à proporção que ia satisfazendo o seu prazer carnal com outra, diga-se de passagem, bem mais nova do que ela.
Com o passar do tempo, eis que um dia, durante uma destas suas aventuras amorosas ilícitas, a tal pessoa recebeu a notícia, através do celular que o seu cônjuge estava internado devido um problema cardíaco repentino e não teve outra escapatória. Do motel onde se deliciava nos braços de alguém, não titubeou, dirigiu-se ao hospital com a maior cara lambida e sem vergonha nenhuma, levou até pequenas guloseimas para a vítima internada. Conversa vai, conversa vem, esta foi logo desabafando, como se estivesse num leito de morte:
-Você ainda tem coragem de vir me visitar, mesmo sabendo que pra você não represento mais nada? Por que não ficou lá onde você estava, como sempre me traindo? Eu sei de tudo. Já descobri tudo. Sei com quem você está saindo!
Para não criar um clima mais pesado e desagradável do que o do hospital e para evitar um escândalo maior, a pessoa infiel resolveu deixar para confessar tudo quando o cônjuge recebesse alta. E foi o que logo aconteceu. Após o seu restabelecimento, num momento adequado a confissão foi realizadada, com pedido de perdão e tudo o mais. Este foi concedido com muito ressentimento e ambos continuaram morando sob o mesmo teto, só que o relacionamento jamais foi o mesmo. A desconfiança de ambas as partes foi notória e se fez presente em todos os dias, mesmo evitando falar no tal assunto da traição, deixando a poeira abaixar, pois tudo estava ainda muito recente ou então deixar cicatrizar a enorme ferida que implantou no âmago de ambos.
Se a pessoa que cometeu o adultério quis por em prática de maneira errônea o que diz o pensamento: "Não digas ao mundo o que és capaz, demonstre-o", a vítima poderia muito bem retribuir com este outro pensamento: "Se sofres injustiça, cala-te, a verdadeira desgraça é cometê-las".
Joboscan