Histórias de ônibus: Mineirismo
Essa é uma obra de ficção.
Qualquer semelhança com fato real
é mera coincidência.
Entrei num ônibus e me deparei com uma placa no teto logo acima do condutor com uma inscrição chamativa, letras grandes, quase um letreiro luminoso. Dizia o seguinte: “ PASSAGEIRO E MOTORISTA – COMPANHEIROS DE VIAGEM” - Bom! Entrei, paguei minha passagem e me acomodei no banco atrás do cobrador esperando a deixa para “puxar-papo”. Na verdade, uma cobradora que mora no mesmo bairro que eu, dessa forma, não foi tão difícil iniciar um breve bate papo, então alfinetei:
– A inscrição diz que passageiro e motorista são companheiros, e o cobrador? Não é boa companhia? Ou é o motorista uma pessoa tão esquecida que é preciso uma campanha da companhia gestora do trânsito coletivo dirigida aos clientes das empresas que o chauffeur existe logo ali, atrás do volante?
Bom seja qual for o motivo do letreiro, se eu fosse um agente de bordo, já teria me sentido ignorado e providenciado uma placa pequena para ficar sobre a minha mesa de trabalho, voltada para a roleta, dizendo o seguinte: “O COBRADOR TAMBÉM”.
Uma dupla de trabalhadores de coletivo urbano faz três, quatro até cinco viagens de um ponto final ao outro, isto no caso de Belo Horizonte onde o sistema implantado é o bairro a bairro desde a gestão do prefeito Maurício Campos, lá nos idos da década de 80. Quando eu era criança e ficava ali vigiando o motorista manipulando aquele volante e produzindo os barulhos vindos do motor. Eu adorava ficar ali olhando-o soberano no abrir e fechar as portas com aquelas chaves magníficas no canto sob a janela. Até imitava o som: quisssssssssssssssssssss
Cada viagem é denominada pela gíria dos asfaltos como caçambada, veja só! E a última caçambada é a “Boa”, é quando o expediente está se encerrando, o condutor dessa máquinas maravilhosas de nos levar e trazer coletivamente fica mais experto e quer ganhar tempo para não “agarrar” no trânsito, se você for conduzido nessas viagens e perceber a alegria estampada nas fazes dos colegas, fique sabendo que essa caçambada pode ser um pouco truculenta devido a qualidade do asfalto aplicado nas vias brasileiras.
Se você quiser dar o troco por ter sido chamado de entulho na "caçamba", use o nosso bordão na capital das alterosas, capriche no sotaque e grite pro companheiro de viagem, o soberano do volante:
– Ei, Moto! ‘Ce tá carregando é MINEIRO, não é MINÉRIO não, uai!!
Por Paulo Siuves