Batman no Riocentro
Na tentativa de identificar aspectos antropológicos característicos do cidadão baiano das décadas de 40 a 80, material que pretendo usar no meu próximo livro, consultei o Arquivo Nacional e, ao cruzar informações dessa instituição com outras fontes, cheguei a um caso emblemático: existiu um oficial do Exército Brasileiro sediado no Rio de Janeiro que, no início dos anos 80, teve um caso com o Batman - calma, eu explicarei! - foi descoberto pela mulher e veio fugido para a Bahia trazendo o seu parceiro a tiracolo, convertendo-se em seguida ao Candomblé, sendo, inclusive, Pai de santo por muitos anos, antes de vir a falecer, por volta dos anos 2000. O Love Story, porém, não durou muito tempo: após seis meses do ocorrido, os dois começaram a brigar, porque o homem morcego deu pra receber um santo homofóbico. Aí já viu, né!
Rebobinando a fita: o Batman, que ficou assim conhecido porque, quando não estava em “atividade oficial”, costumava andar fantasiado à noite por bares undergrounds cariocas, em homenagem ao seu herói preferido, era um oficial americano que estivera aqui no Brasil no finalzinho da ditadura militar, em missão secreta, no início do mês de abril de 1981, quando o General Figueredo era o atual Presidente da República. Conhecendo o oficial carioca, apaixonaram-se e viveram um tórrido romance por exatos trinta dias, até que acontecesse o que se segue:
Na verdade, por falta de fontes confiáveis, muita coincidência e, mais ainda, por uma necessidade sobre - humana de apimentar esse affair que, não por acaso, veio se consumar na Bahia, ou, ainda, porque não ficou claro na minha pesquisa acidental qual foi mesmo a missão secreta do homem morcego - o que ele viria fazer na América latina em um período em que caminhávamos rumo à abertura política?- precisei interceder, misturando um pouco de imaginação com fatos reais:
Vamos lembrar aqui que aquele fatídico atentado a bomba forjado do Riocentro, que teve como vítima fatal um sargento e que feriu gravemente um capitão, ambos do exército brasileiro ligados ao SNI, antigo aparato de repressão civil, aconteceu exatamente há 32 anos, por volta das 21 horas do dia 30 de abril de 1981, ou seja, na mesma época em que aqueles outros dois estavam praticando a máxima franciscana do “É dando que se recebe!”
Se o leitor prestar um pouco mais de atenção naquela conhecida foto do atentado em que aparece o sargento morto dentro de um automóvel do tipo Puma, vai ver que lá no fundo, ao centro, estava um fusca branco parado. Pois é... No banco de trás de um fusca! Estavam em colóquios lingüísticos, quando a bomba estourou antes do tempo no outro automóvel, e mesmo assim não sentiram necessidade de evacuar o recinto. O lugar estava tranqüilo e, por conta da precariedade da luz e do show que estava acontecendo ali perto em homenagem ao dia do trabalhador, as pessoas não se deram logo conta daquela tragédia.
Alguns minutos após o atentado, porém, a esposa do militar brasileiro, que teria ido sozinha à festa e resolvera voltar mais cedo pra casa, mesmo tendo passado a poucos metros dali, reparou apenas naquele fusca, pois lhe pareceu bastante familiar, com todos os vidros embaçados e balançando bastante. Não deu outra: “fulano, seu desgraçado!” - Aquela mulher, além de professora de educação física, demonstrou naquele momento ter uma resistência espartana, pois, após surpreendê-los em intimidades, perseguiu – os ainda por alguns quilômetros, segurando outra bomba encontrada ao lado do fusca – que pode ter voado para ali com a explosão - quando então esses amantes conseguiram, finalmente, se esconder atrás do muro da miniestação de energia elétrica do Riocentro e foi ouvida uma segunda explosão.
Esse caso se encerra com o êxodo dos milicos. O gringo, procurado pela CIA por crime de deserção (foi o que eles alegaram, porque o oficial brasileiro foi expulso “a bem da ordem e da disciplina”) depois da briga com o seu par, tirou documentos falsos e resolveu montar uma fábrica de rapadura em Pernambuco, mas faliu porque na época o Pró-álcool estava bombando, faltava matéria prima. Hoje é frentista em algum posto de gasolina do nordeste brasileiro.- Chupa que é de menta!