Feliz dia do Trabalhador
FELIZ DIA DO TRABALHADOR
Talvez houvesse cometido um erro em algum momento do seu intrincado jogo de equívocos e não teria ficado trocando para sempre os mecanismos sincrônicos do apogeu da gloria ou a falência sistêmica de todos os conceitos sociais. Lembrou vagamente, que até bem pouco tempo ainda podia-se falar em tempos de paz. A chaleira no fogão esquentando água para o chá o despertou de longínquas viagens, mas a TV logo chamou atenção para o jornal da manhã, o que sempre trazia forte comoção. Afinal, sempre da mesma forma, ou: balanço do final de semana, dezenas de assassinatos, a inflação está voltando, o tomate galgou preços estratosféricos e não chove no nordeste há exatamente dez anos. Vocês querem mais?
Eu vivo falando de amor, de uma companheira derradeira, de voltar a viver, amar, ser amado... Um grande anacronismo mutante ante o que assistimos, descortina em nossos olhos e o filme é real, a disputa por tudo ou por nada, pelo poder absoluto, por se mostrar mais poderoso que as instituições ou simplesmente acrescer em uma conta bancária dispersa mais números. Lembrou-se da plausível possibilidade de se incorporar ao mundo. Haveria de pensar que contava uma versão alucinada porque era radicalmente à falsa contada pelos aspirantes a políticos, mas, felizmente em um quartinho isolado aonde o vento árido, nem a poeira, o calor podia recordar a visão atávica de um ancião, que vencendo a todas as sujeições superara os invejosos de seu saber. Sentado em uma tosca cadeira ensinava lições de vida, de perdão e amor, diria com toda a clarividência de um sol nascente em dia de verão que o mundo não se acabara, mas as mutações climáticas sociais, assim como em Roma antiga continuava a dizimar, escravizar e principalmente matar inocentes, tudo em prol de uma antinomia inventada pelos parâmetros sociais e de nada adiantaria os protestos em frente às repartições publicas, praças e avenidas, pois elas têm como fulcro de tornar governantes pessoas muito piores que as que já conhecemos.
Um homem passou por mim e perguntou-me: és aposentado? Respondi-lhe, não! Mas com a certeza de um frio olhar para mim, ele não sabia o que fazer, poderia até fingir que havia adormecido agarrado a um poste de iluminação publica, como adormece um doente cansado ou um bêbado, mas, o tremor das pálpebras o denunciaram, também, a falsidade poderia ser melhor ou pior fabricar na garganta um gemido lastimoso, desses de cortar o coração, mesmo assim disse: ainda não tenho cinquenta anos, somo duas aposentadorias e ainda tenho um emprego publico que não preciso trabalhar para receber. Senti nesse momento a rebeldia de todos os sentimentos de revolta que um homem maduro pode ter, me deu uma vontade incontida de gritar, de perguntar o que era isso, porque acontecia, mas nesse exato momento o Jornal Nacional anunciava a libertação de trabalhadores escravos e também a prisão dos senhores de escravos do século XXI, assim, dessa forma eu disse àquele homem aposentado duas vezes e trabalhador invisível. Feliz dia do trabalhador para você.
Airton Gondim Feitosa