As Rosas Sofridas cap.V

Josias pegou o binga de artifício e com facilidade aparente tirou fogo daquilo. Notava-se que ele não tinha muita prática como pretendia demonstra. Ele deveria ter praticado muito para fazer tão bem. Mesmo por que Dona Rosa começava entender, ou perceber que muita coisa fora premeditado, Apenas não sabia ainda o por quê! Desconfiava. Então começou pensar em tudo que estava acontecendo desde o momento que terminou a cerimônia do seu casamento. Começando pela saída as pressas de casa mesmo antes de começar a festa. O cavalo escolhido para fazer o que fez; o tiro no galo, a falta de empregados. Tudo isso cheirava um plano, um mesquinho plano!

Ascendeu o fogo e ela pôs água para fazer o café, e fez com a maior naturalidade possível. Para ela não era tão difícil por que era muito prendada, e como ele mesmo comentou. Ela tinha feito cursos de arte culinária; sabia fazer muitas iguarias, mas esta que ia fazer, não tinha aprendido e ele seria o primeiro a comer. Ele não era o seu marido, então merece que sua esposa prepare um prato especial para ele.

Seria uma forma de começar a vingança. Ela sabia que seria fácil pelejar com ele, mas quando pudesse colocaria em prática a sua vingança. Então ela levou o café para ele na sala, onde estava deitado numa rede. Ficou parada ao lado a espera que tomasse o café. Uma atitude de uma ótima serviçal. Quando terminou, ela perguntou: o senhor não vai tirar a pele da cobra? Eu acho que isso é serviço de homem, mas se não quiser eu mesma faço.

- Você não está pensando mesmo em preparar aquela cobra para o nosso jantar, está?

- Claro que estou!

O senhor não acredita que eu possa prepará-la. Pode ficar sossegado que eu sei cozinhar muito bem.

- Não, isso é uma loucura. Jogue-a fora!

- De maneira nenhuma, vou perder esta oportunidade de por em prática o meio de sobrevivência que aprendi quando eu era bandeirante!

- Você tem certeza de que vai comer?

- E por que não, o senhor não come?

- Claro, é um prato como outro qualquer! Ele esperava que ela desistisse daquela loucura Ela por sua vez não sabia se conseguia ir até o fim, de comer cobra, e ainda preparada por ela.

Josias não foi tirar a pela da cobra. Então ele percebeu que ela estava muito quieta na cozinha; disfarçadamente foi até a cozinha tomar água, então ele viu aquela coisa horrível na mão ela. Dona Rosa tinha tirado a pele da cobra e a exibia triunfante! Ela não só preparou a cobra como encontrou muita coisa na dispensa que dava para demonstrar que apesar de nunca ter feito nada na sua casa, não queria dizer que não sabia fazer!

Depois do jantar pronto, mesa posta, digna de uma doméstica, ela disse simplesmente. O jantar está tirado! Ele se encaminhou para a sala de jantar e quando viu aquilo, balançou. Ficou perturbado. Não era a reação que esperava. Ele se assentou e disse: - Você não vai comer?

- Claro que vou!... Não sabe onde conseguiu coragem para comer aquilo que havia preparado, por que até para experimentar o sal, estava com nojo, mas serviu-se daquele prato; passou para ele sem mesmo o olhar, e começou comer. O primeiro pedaço fez quase jogar força, mas tinha que fazer.

Tinha que comer sem demonstrar nojo, mas por incrível que fato pareça, estava gostoso, e por que não dizer delicioso. Então comeu e repetiu, não tocou nas outras comidas que preparou.

Josias olhava e colocava no canto do prato, e punha outra coisa. Dona Rosa não falou nada. Estava notando que ele não estava conseguindo comer, mas não comentou.

O jantar transcorreu em silêncio. Ela pensou: serei uma Mariani em todos os pontos, ele verá e sentirá na pele.

Ela esperou que pelo menos ele elogiasse o jantar que fez com tanto esmero (apesar de tudo), por que isso se faz até para as empregadas, mas Josias não disse uma só palavra. Jantou e saiu para a sala de visitas! Dona Rosa pegou a louça colocou numa gamela e pensou: "Amanhã eu lavo". Sentia-se moída. Doíam-lhe todos os ossos. Foi no rio tomou banho e foi se deitar. Não antes de perguntar se ele deseja mais alguma coisa. Respondeu que não apenas com um aceno. Afinal ele não é um louco, um desequilibrado, ou ainda um desclassificado. Era o seu marido apesar de tudo, mas não era obrigada a viver com ele, se as coisas continuassem assim; não tinha medo dele, podia enfrentá-lo da maneira que ele quisesse, até corpo a corpo se assim fosse necessário, ou então voltaria para casa e tinha certeza de que ele não poderia obrigá-la a ficar a força. Não era tão longe, e depois poderia achar socorro bem mais perto de que ir para sua casa, e depois ela não acreditava que ele deixasse chegar a este ponto, mesmo por que ela não era uma desvalida. Munida deste ânimo pensou: vou esperar os acontecimentos. Não vou fugir, afinal sou uma Mariani, e como todas as mulheres da minha família nunca fugiram de situação fosse ela qual fosse! Vou dar tempo ao tempo, quero ver até aonde ele quer chegar não me humilharei a tanto, fugindo. Ela ficou olhando para a casa e pensando: Na última vez que estivera aqui, a casa estava mal cuidada, mas agora estava muito bonita. Ela muito grande e tinha em toda volta calçada com seis degraus mais tarde ela veio saber o motivo. Quando o rio enchia, inundava tudo, poderia entrar água na casa se não fosse alta. Muitas vezes era obrigado a sair de casa de barco. E esta enchente durava até um mês. Por este motivo esta fazenda foi trocado o nome de São Roque para "Veneza". Mas, diga-se de passagem, era uma coisa linda. Quando era tempo da enchente, juntava as águas do rio com as águas da Lagoa Grande, que formava atrás da casa grande, na manga grande de pasto. Esta era uma reserva de pasto para as vacas paridas de novo, e para o gado de corte para uso da fazenda.

Mas neste momento o seu pensamento voltou

para o episódio de momentos atrás. Ela se lembrou da voz do marido que ainda reboava nos seus ouvidos, uma vós vinda do seu amado, tão gentil, tão educado, e não conseguia acreditar que era verdade.

"Aqui o único galo que canta é eu" Por que será que ele disse isso, e principalmente olhando para ela. Seria uma mensagem? Mas por que tudo isso?

Mas em seguida ele se comportou como se nada tivesse acontecido. Com vós calma mandou-a entrar e começou mostrar os móveis que tinha comprado. Perguntou se ela tinha gostado. Ela apenas acenava com a cabeça afirmativamente, por que a vós não lhe saía da garganta mais não que estivesse com medo, mais por que não estava com vontade de conversar. Foram de cômodo em cômodo, ele sempre gentil como aquele Josias que ela havia se casado, e isso a confundiu. Quando chegaram na cozinha ele disse: - Faz um cafezinho para nós antes de começar fazer o jantar!

Dona Rosa perguntou: - O que você falou? Eu preparar o jantar?

- Claro, disse ele: Quem deveria de ser a não ser você. Não quer que eu faça, pois não? Ou você não sabe?

- É claro que eu sei, e você sabe disso.

- Mas é por isso que eu estou mandando você fazer o jantar, por que eu sei que você é uma boa cozinheira. Não foi para nada que o seu pai lhe pagou um curso de arte culinária. Alguma coisa você aprendeu... Então o que está esperando?

Dona Rosa entrou na cozinha, não encontrou água, então ela disse.

- Não tem água!

- Não tem água?

Mas o rio é tão perto, vai buscar um pouco. Ela apanhou uma vasilha e foi buscar água na fonte.

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 30/04/2013
Código do texto: T4267297
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