APRENDI COM MINHA MÃE

Minha garganta está seca. É uma sensação não muito agradável, parece que há nela um ressecamento, e também uma leve coceira. A saliva sozinha não resolve. E o diagnóstico, talvez precoce: garganta inflamada.

Uma certa indisposição acompanha essa moléstia e me faz cogitar a possibilidade de ficar na cama (ainda mais com a chuvinha caindo lá fora). Mas o dever me chama. É hora de levantar, tenho muito a fazer no dia de hoje.

Tomada por um desânimo físico, levanto-me da cama e sigo para o banheiro. O momento mais difícil: o banho. Sinto frio, mas devo passar por essa tortura, é inevitável. Ao sair do banho meu queixo treme e trato logo de me vestir com uma calça e uma blusa de mangas compridas. E um alívio me faz melhor.

É hora do leite quente. Nada mais apropriado para amenizar a sensação de febre interna (aquela que não se pode medir, mas a moleza que sentimos equivale a de uns 39 graus marcados no termômetro). A lentidão do meu ritual antes de sair para o trabalho quase me faz perder a hora do ônibus.

Apanho a primeira condução e sigo para a batalha de mais um dia, torcendo para que as longas horas que incluem trabalho e faculdade passem num sopro. Mais pela força do que por desejo, entro no ritmo e passo a realizar minhas atividades como se estivesse tudo bem. A inquietação não prejudica meu desempenho habitual.

É chegada a hora do almoço. Tenho fome. É, eu sei, eu deveria estar sem apetite, mas isso não acontece comigo nunca. Chego no refeitório e, ao passar a vista nas opções do dia, me deparo com meu prato predileto. Mas, numa manifestação súbita, minha consciência proclama: carne suína não pode, é reimosa! E tenho que me contentar com o frango grelhado, porque o que me ensinou a minha mãe ainda guardo com zelo.

Depois, é esperar a hora de chegar em casa para pôr de molho cascas de romã, para beber a água, tomar um chá quente, de eucalipto, alho e limão, e fazer gargarejo com a mistura de água morna e sal. Era o que minha mãe me servia, no tempo em que eu podia adoecer porque alguém cuidaria de mim.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 30/04/2013
Reeditado em 14/08/2013
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