MÁS COMPANHIAS
Prof. Antônio de Oliveira
antonioliveira2011@lvive.com
Sempre ouvi dizer que a gente deve fugir das más companhias. Prefiro dizer que a gente deve fugir dos maus conselhos e dos maus exemplos. Uma companhia considerada boa, mesmo bem-intencionada, pode dar um mau exemplo ou um mau conselho. O famoso “Se eu fosse você...”
Ninguém é perfeito. Ninguém tem conduta ilibada, caso contrário não seria gente de carne e osso. Não seria uma pessoa humana sujeita, por natureza, ao erro. Não há ninguém acima de qualquer suspeita, a não ser em situações bem pontuadas. E ninguém cultiva todos os valores ideais. Ninguém é intrinsecamente bom. Uma pessoa sensata pode ter um ponto de vista extravagante ou, incapaz de matar uma mosca, acabar fazendo miséria. Um exemplo simples: tive um amigo, advogado e professor, e que eu admirava, que não devolvia livros emprestados, por princípio.
Além disso, não costumamos questionar as pessoas consideradas de boa índole, ao passo que em geral lidamos com um pé atrás, com desconfiança ou reserva, em relação a pessoas suspeitas. Um cardeal da Igreja Católica declarou, antes do último conclave, que metade de seus amigos era constituída de ateus. Achei interessante essa declaração, sobretudo partindo de um candidato a papa. Costumamos rotular as pessoas e, toda vez que nos radicalizamos, radicalizamos também nossas críticas e intolerâncias. Na verdade, nossas convicções somente são testadas quando as temos de pôr em prática.
Jesus não condenou a mulher adúltera. Nem repudiava os publicanos, alvo de preconceitos na época. Tampouco discriminava os deficientes. E criticou quem fica só no “Senhor, Senhor”, inoperante, e se achando imune. Aliás, quantas injustiças se têm perpetrado, ao longo da história, em nome do Senhor, em nome de Deus! Nas cédulas do dólar americano está escrito: “In God we trust”. E nas fivelas dos uniformes dos soldados alemães, usados na 2.ª Guerra Mundial, a frase “Gott mit uns”, isto é, Deus está conosco. Ah, os rótulos!