O Casal do Agora Na Terra do Amanhã

Já duas, talvez três horas da manhã. Como de costume, após todo o vazio que ocupou suas mentes e corações o dia todo, vazio pelo trabalho medíocre e entediante, vazio pela falta de quem tanto ama, vazio pela ausência da vida fantástica que nenhum dos dois tem, abrem-se aquelas janelas para a Terra do Amanhã, que a cada dia parece mais perigosa, difícil, triste e próxima.

Tantos sonhos e tantas vidas imaginadas desde o berço. Nada até agora.

Tudo o que releram em sua autobiografia indica que o futuro não é nada bom. Ele sente que já é tarde pra perseguir seus sonhos. Ela só sonha que ele realize todos os seus sonhos. Com ela, claro. Ele se entristece, o fracasso bate à porta e ele não vê opção senão atende-lo. Ela grita que não há ninguém. Ele a olha. Ele a ama. Ama e deve muito à ela. Deve todas as promessas que fez. Presentes, viagens, filhos, casa... Ela, ela jamais cobraria nada disso dele, ela só quer uma coisa que ele prometeu e as vezes parece se esquecer. Eles se olham, e sabem o que o outro está olhando através de sua janela. Ele vê um mundo de coisas. Ela só que ver uma coisa no mundo. Muito dizem um ao outro antes mesmo do dialogo:

Ele: Mas e se eu nunca for nada na vida?

Ela: Ainda assim você será o meu tudo...

Ele entende. Eles se entendem, e fecham suas janelas para a Terra do Amanhã. Se abraçam e dormem.

Chega por hoje amor, vamos deixar o futuro para outro dia novamente.