DITADURA DA DESESPERANÇA
Têm dias em que a gente sente vontade de sentar à beira do caminho e deixar que a enxurrada rompa o dique que ainda mantém viva a esperança. Estar na mesma praça, no mesmo banco e ver a banda passar, levando os sonhos que persistem ainda e apesar de tudo. Chorar as perdidas ilusões dos planos que se fez nas tardes de domingo, nas lutas juvenis de uma época dura que levou tantos amigos guardados, até hoje, do lado esquerdo do peito. Parar na contramão da História e ter certeza do que se esconde além da linha do horizonte e, quem sabe, encontrar um lugar tranquilo para viver em paz.
São coisas que passam por nossa cabeça, são dias de nostalgia e desesperança. O tempo é implacável e não retorna. A sociedade sofre, a politicagem fede, nossa casa virou prisão, os direitos humanos protegem ladrão... A ditadura hoje não é abertamente política, ela é mascarada. É a ditadura da ganância, da impunidade, da falta de vergonha, da inversão de valores. É a ditadura da falta de segurança, da saúde que mata, do salário que não compra o básico, da educação desmantelada. É a ditadura da miséria pessoal e social, uma arma fatal que mata, pouco a pouco, a esperança.
Por isso, certos dias, dá vontade de andar na estrada de Santos, a 200, 300 Km por hora e gritar: Voa, voa minha liberdade!