O Parque e a Noite
O dia se despe, a noite se mostra. Troco 20 minutos de ônibus por uma hora de caminhada e entro no Parque do Ibirapuera. Nunca tinha visto o parque coberto pela
noite e o temor vai dando lugar a uma sensação de tranqüilidade, afinal moro em São Paulo e o medo de ser roubado é parte da rotina. Qualquer pessoa com
um mínimo de bom senso evitaria entrar no parque à noite, penso em voz alta, mas logo mudo de idéia, ao ver centenas de pessoas correndo, exercitando-se ou simplesmente passeando. Respiro fundo, engulo minhas idéias
pré-concebidas e abraço a liberdade de caminhar livremente quando poderia estar dentro de um ônibus lotado, tentando chegar na Paulista.
A cada passo, vou relaxando e tirando a minha armadura. Respiro o verde que entra por minhas narinas, por meus chacras e me enche de vida. O céu retribui a minha entrega com estrelas e uma lua que parece sorrir pra mim.
Além do parque, ônibus lotados carregam gente com raiva; carros com motoristas neuróticos duelam com motoboys kamikases - o stress os acompanha e eu fico pensando no preço alto que pagamos por morar na cidade grande, mas
esses pensamentos desaparecem a medida que o parque vai me envolvendo cada vez mais.
Sinto como se a natureza fosse um portal que pouco a pouco me conduz para longe do mundo das coisas temporárias, ali, caminhando e ouvindo o som da noite ecoando por entre as arvores, percebo que precisamos de muito pouco para sermos felizes.
Sigo caminhando e penso no quanto perdemos tempo correndo de um lado pro outro, quando basta um pequeno momento de quietude para nos sentirmos bem.
Parece algo simples, mas na correria do dia a dia, só percebemos o milagre de termos um corpo e uma vida saudável, depois de uma temporada na cama ou num hospital. Não precisamos ficar doentes, para perceber o quanto é
maravilhoso, estar com o pulmão e a garganta limpa, o quanto é incrível, caminhar, sentir cada parte do corpo funcionando bem. Parece auto-ajuda, palavrinhas de calendário Seicho-no-ie, mas estarmos lúcidos da vida que
corre por nossas veias, torna a cidade grande menos sufocante, deixa os problemas com cara de coisa ultrapassada.
A felicidade se esconde mesmo nas pequenas coisas e a encontrei caminhando no parque a noite, sem a menor pressa de chegar onde devia estar.
Frank Oliveira
http://cronicasdofrank.blogspot.com