O  grego  Alcebíades



 
                        Hoje é domingo e pretendo conversar com meus amigos leitores e leitoras com certa rapidez. Portanto, uma crônica rápida, ligeira, se possível. Algumas leitoras andaram achando extensas minhas últimas crônicas, inclusive minha irmã Anamaria.
                        Com certeza,   estarão elas  ansiosas para perguntar se vou continuar o meu passeio pelo Machado de Assis.  – Sim, continuo com esse belo passeio!  Estou cercado dos livros do Machadinho. Hoje, me reportarei ao conto referente ao Alcebíades. Como venho dizendo, compartilho com os amigos do meu jeito e  ao sabor de minhas recordações. 
                        Devo dizer que sou homem de fases e ainda estou nessa do Machado e com muito bom humor... E ao mesmo tempo cético, uma condição espiritual adorável a que vou me acostumando.
                        Vamos ao conto. Álvares era o nome do Desembargador. Figurinha fácil em todas as noites de Natal na cidade onde morava. Viciado em café. Era sempre o primeiro convidado dessas festas, pelo seu lado galhofeiro, falador e muito piadista. Enfim, era um pândego. Neste Natal a que me refiro, o nosso Álvares, adorador de café, dizia que o chá acabaria levando a humanidade para a total extinção.  E ressaltava que Carlos Magno jamais tomou chá. Os  convivas logo  lhe pediram uma piada e nosso Desembargador disse que desta vez iria contar uma história verídica, não essas piadas inventadas e sem muita graça.
                        Começou dizendo  que era espírita e que depois de ler Plutarco, um célebre autor grego, resolveu  invocar a presença de Alcebíades, um grego de Atenas. O grande Plutarco falava justamente de Alcebíades, um guerreiro famoso que viveu por volta do ano 400 A.C.  Sabemos todos que os gregos contribuíram grandemente com as artes e a literatura e até hoje rendemos homenagens a Safo, poetisa do amor; Píndaro, mestre da poesia; Demóstenes, e tantos outros. Mas estou fugindo do tema do Machado.
                        O nosso Desembargador, galhofeiro, empolgado com a leitura e o clima da antiguidade de Atenas, como disse, invocou o Alcebíades, que acabou aparecendo na casa dele, em carne e osso.   Era a civilização brasileira se encontrando com a eternidade. E ele apareceu com aquelas túnicas usadas pelos romanos e antigos gregos. -  Mas por que me chamou? perguntou o grego.  – Queria lhe fazer um convite – Pois não, diga. – Aceita um convite para ir a uma festa aqui no Rio?  O Desembargador explicou como pode o que seria uma festa moderna. – Bem, não entendi, mas pelo menos vou ver alguma coisa do seu século. Onde é a festa? – Calma, tenho que me vestir. Quando o grego viu o Desembargador vestir uma calça preta, desandou a rir. – Canudos pretos,  exclamou ele. E o Alcebíades caiu pra trás quando viu o Álvares atar uma gravata. Chegou a pensar que o Desembargador estava se enforcando.  E, depois, quando observou-o  colocando  um chapéu, empalideceu e cambaleou.   Caiu no chão morto. O Desembargador, vendo que estava diante de um cadáver,  não teve outro jeito senão mandá-lo para o necrotério.
                        Este conto do Machado me fez lembrar a estória de um cara que havia morrido no ano 1.000. Não sei explicar o porquê, mas esse morto acabou ressuscitando no  nosso século e ficou "maluquinho" com o tempo moderno. Sinceramente, não imitaria o Desembargador.  Mesmo porque penso que até eu, do séc. 20, com toda a minha carioquice,  sucumbiria diante de uma balada moderna... Mandaria esse personagem morar  num fórum da Justiça, local onde ele se sentiria à vontade.  Os leitores e leitoras perguntarão, espantados:  - Por que no fórum?  Exatamente, porque a Justiça é tão conservadora, que o macróbio não iria sentir o choque cultural  da mudança...