As Rosas Cap III

sua surpresa ele correu também. Ela começou a gostar da brincadeira, que por momento esqueceu a situação.

O cavalo se tornou seu companheiro de viagem, em igual condição é claro, cada um andando nos seus próprios pés. Pelo menos ele estava ali, numa emergência se aparecesse algum boi, ou qualquer animal, ela montava e estaria protegida, pensou!

Dona Rosa embebida nos seus pensamentos,

não se conformava com o que estava acontecendo, para ela não passava de um sonho, um sonho mau, uma verdadeira loucura.

Pensou em dar um beliscão no seu próprio braço para se certificar de que não estava dormindo. Mas para o seu maior desespero era uma realidade uma amarga realidade incompreensível, abominável!

Com estes pensamentos deixou-se envolver, e com ele foi se entregando ao esquecimento a ponto de não perceber que Josias se distanciara que não dava mais para vê-lo. Isso a deixou tranqüila, e não se aborrecia em ver seu marido montado e ela a pé puxando o cavalo, e nestes pensamentos ela incluía um plano de vingança. Não montará em outro cavalo a não ser neste, mas Dona Rosa estava enganada quanto a estes planos. Não imaginava que o pior ainda estava para acontecer. Sua revolta era tanta que desejava até a morte do marido com apenas três horas de casada com este homem que ela tinha se casado com tanto amor. "Mas ele não me ama, pensou ela, eu estava enganada, e eu será que o amo?

Absorta nos seus pensamentos não percebeu que estava nos limites da fazenda.

Ao sair de uma curva da estrada, avistou parado ao lado da cancela o Josias esperando- a .

Dona Rosa tinha até esquecido do cavalo, nem percebia que ele ainda a seguia como um cão adestrado.

Quando ela andava ele andava; quando ela parava ele parava também.

No momento ele era a única companhia a agradável que ela tinha.

Quando chegou perto do Josias, ele se afastou para lhe dar passagem. Ela passou sem mesmo

olhar para ele, e quando chegaram na casa, ele pegou o cabresto da mão dela e se dirigiu para o celeiro.

A casa era de frente para o rio, tinha seis janelas muito grandes. Nas duas extremidades da calçada, tinha uma escada com seis degraus. Na primeira que dava para o Oeste, encontrava-se a porta que era para a entrada da principal da casa. Primeiro a sala de visita, e daí para os outros cômodos, a sala de jantar, e a saída para a cozinha e para fora da casa nos fundos aonde se encontrava um grande pátio, e era ali que todos os dias pela manhã se encontravam todos os agregados para receberem as ordens de trabalho do dia, e no fim da tarde novamente se reuniam ali antes de irem para casa por que eram todos da fazenda. Em frente era a cozinha, e ao lado a despensa que era separada da casa. Da sala de visitas havia uma ante sala e dali entrada para os demais cômodos da casa. E uma das entradas dava para uma sala muito grande que servia como capela.

Mas esta sala tinha uma entrada própria. Como disse na calçada tinha duas escadas uma em cada extremidade; uma para a entrada principal e a outra para a capela, aonde se fazia a reza todas as noites.

A casa tinha ao todo doze cômodos, sem falar na cozinha e despensa que ficavam fora da casa.

Na capela havia três nichos. Um de São Roque, Um de Nossa Senhora da Conceição, e outro de Nossa Senhora do Bom Parto.

Os agregados chamavam aquela sala de capela da fazenda. Era um ambiente de requinte e tradição. Bancos, cadeiras de palhinha. No alto sobre os nichos um grande crucifixo de metal muito bonito. Dizem que estas imagens e o crucifixo vieram de Lisboa com o velho Fernando, o bisavô de Josias. Junto as imagens nunca faltou uma lamparina de óleo acesa. Era trocada todas as manhãs. O óleo e a velinha.

Quando Josias voltou do celeiro, Don Rosa ainda estava parada ao pé da escada esperando por ele. Então quando ele ia subindo a escada, e já estava no último degrau, um galo cantou atrás de Dona Rosa. O Josias que estava um pouco a frente dela, sacou o revólver e atirou no galo matando-o. Dona Rosa olhou para traz não acreditando no que esta vendo.

Teve a impressão de que a bala passou entre as suas pernas por que sentiu o vento da mesma. Assustada ela entrou na casa e ainda mais quando não viu nenhum empregado. Em outra ocasião quando eles iam chegando perto da cancela já tinha gente para abri-la e cuidar dos cavalos, e naquele dia não ter nenhum, e era o dia do seu casamento.

Então ela começou a sentir medo daquele homem. O que será que ele tem em mente; pensou: Será que pretende dar o golpe e simular alguma coisa ruim, pois dispensou todos os empregados, mesmo por que depois do que ele fez comigo, e que acabou de fazer com aquele pobre galo, é capaz de qualquer coisa. Mas de pouco foi readquirindo sua estabilidade emocional. E disposta a enfrentá-lo de igual para igual.

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 28/04/2013
Reeditado em 29/04/2013
Código do texto: T4263608
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