"O CUNHO VERNÁCULO DE UM VOCÁBULO"
Aprendi, na minha ainda pouca experiência de vida e bagagem literária, que escrever bem dispensa o vocabulário difícil e pomposo. O pedantismo dos que vão ao dicionário catar o termo raro, quase sempre rouba-lhe a clareza do texto e compromete-lhe a mensagem. Escrever é, acima de tudo, chegar ao leitor com absoluta precisão dos termos que compõem a lógica coordenação das ideias. Coelho Neto, embora fosse brilhante orador e escritor de incontestáveis méritos, "pecou" - segundo os estudiosos da obra dele -, exatamente por essa pomposidade ao vernáculo que o manteve tão restrito aos seus pares intelectuais quanto distante do público leitor. Machado de Assis fez o contrário; economizou na concisão dos capítulos, na objetividade dos parágrafos, sintetizou a frase com a mais absoluta precisão, coesão e clareza. Ao desprezar o termo raro, deu à linguagem aparentemente simples, a marca inconfundível da expressão filosófica e psicológica, requintada pela mais perfeita construção morfossintática. Este foi o traço distintivo a marcar toda a prosa do nosso maior escritor, cuja obra privilegiou a palavra de forma invulgar na escolha do termo preciso e insubstituível como expressão de uma ideia, sem deixá-la perder o encanto por evitar o termo raro. O vocábulo simples, apropriado à elaboração do período, é mais eficaz, inteligível e soa melhor que o termo raro, carregado de pretensa erudição e limitada clareza de ideia. Não se diga, portanto, que o vocábulo raro seja o elegante e belo ou que o simples seja pobre. Ambos podem adquirir ou perder o brilho do estilo quando, sintática e semanticamente bem ou mal colocados num contexto, apropriados ou não à mensagem que se quer passar para a compreensão de quem a lê. Do equilíbrio em boa dosagem de tudo é que resulta um bom texto. E nisto Machado inovou partindo da narrativa a começar “pelo cabo”. Dou crédito do título ao poeta Manuel Bandeira, in Poética, cujo fragmento é tão propositadamente pomposo quanto a ironia que ele contém. Condensado o texto em parágrafo único, não ouso copiar Machado de Assis, embora imitá-lo me seria um mérito; mas honrá-lo pelas “memórias” que a todos deixou.
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Dedico está crônica a DTL Gonçalves (Odete), a quem fiz um breve comentário que a este texto originou. Odete se diz autodidata. Não duvido. Machado também o era. E a poeta, na esteira do mestre, herdou-lhe a busca obstinada pela perfeição.
Aprendi, na minha ainda pouca experiência de vida e bagagem literária, que escrever bem dispensa o vocabulário difícil e pomposo. O pedantismo dos que vão ao dicionário catar o termo raro, quase sempre rouba-lhe a clareza do texto e compromete-lhe a mensagem. Escrever é, acima de tudo, chegar ao leitor com absoluta precisão dos termos que compõem a lógica coordenação das ideias. Coelho Neto, embora fosse brilhante orador e escritor de incontestáveis méritos, "pecou" - segundo os estudiosos da obra dele -, exatamente por essa pomposidade ao vernáculo que o manteve tão restrito aos seus pares intelectuais quanto distante do público leitor. Machado de Assis fez o contrário; economizou na concisão dos capítulos, na objetividade dos parágrafos, sintetizou a frase com a mais absoluta precisão, coesão e clareza. Ao desprezar o termo raro, deu à linguagem aparentemente simples, a marca inconfundível da expressão filosófica e psicológica, requintada pela mais perfeita construção morfossintática. Este foi o traço distintivo a marcar toda a prosa do nosso maior escritor, cuja obra privilegiou a palavra de forma invulgar na escolha do termo preciso e insubstituível como expressão de uma ideia, sem deixá-la perder o encanto por evitar o termo raro. O vocábulo simples, apropriado à elaboração do período, é mais eficaz, inteligível e soa melhor que o termo raro, carregado de pretensa erudição e limitada clareza de ideia. Não se diga, portanto, que o vocábulo raro seja o elegante e belo ou que o simples seja pobre. Ambos podem adquirir ou perder o brilho do estilo quando, sintática e semanticamente bem ou mal colocados num contexto, apropriados ou não à mensagem que se quer passar para a compreensão de quem a lê. Do equilíbrio em boa dosagem de tudo é que resulta um bom texto. E nisto Machado inovou partindo da narrativa a começar “pelo cabo”. Dou crédito do título ao poeta Manuel Bandeira, in Poética, cujo fragmento é tão propositadamente pomposo quanto a ironia que ele contém. Condensado o texto em parágrafo único, não ouso copiar Machado de Assis, embora imitá-lo me seria um mérito; mas honrá-lo pelas “memórias” que a todos deixou.
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Dedico está crônica a DTL Gonçalves (Odete), a quem fiz um breve comentário que a este texto originou. Odete se diz autodidata. Não duvido. Machado também o era. E a poeta, na esteira do mestre, herdou-lhe a busca obstinada pela perfeição.