OS ANTIGOS LEILÕES DO INTERIOR

(*) Edimar Luz

Em primeiro lugar, é importante ressaltar que os leilões da região eram estruturalmente constituídos, de modo geral, de uma mesa colocada no terreiro, sobre a qual eram expostos pouco a pouco, os objetos, ou “jóias”, como eram comumente chamados no interior esses produtos a serem leiloados. À medida que essas “jóias” iam sendo arrematadas, outras iam sendo exibidas e oferecidas ao público presente para serem leiloadas naquela noite. Em várias oportunidades, a lua bela lá no espaço, mostrava, coincidentemente, todo o seu esplendor naquelas noites sertanejas. Esses leilões eram realizados quase sempre nas noites de sábado.

As pessoas presentes se aglomeravam por todo o terreiro, e em torno da mesa, no intuito de conseguirem arrematar alguns daqueles produtos do leilão, como frutas típicas da região, “assados” de carne bovina e suína, galinha ou capão cheio assado e vários bolos regionais, tais como a rosca, o pudim, o pão-de-ló e outros. Quase todos esses produtos eram enfeitados ou guarnecidos com papel colorido, como o celofane, por exemplo, exceto as frutas e as galinhas vivas. Na realidade, o leiloamento ia se processando de maneira ordenada e pacata, e conseguia adquirir os produtos, aquela pessoa que oferecesse um maior lanço, isto é, uma maior oferta preço. Nos leilões, os lanços em ordem progressiva iam paulatinamente chegando ao preço desejado pelo organizador do leilão. Como se sabe, lanço é aquela oferta de preço manifestada em leilão. E, evidentemente, ficava com a “jóia” aquela pessoa que oferecesse realmente o maior lanço. Comprar em leilão, como sabemos, chama-se arrematar aquele objeto que está à disposição do público.

Não se pode esquecer também a eloqüência peculiar e, às vezes, hilariante de alguns ¨gritadores de leilões¨, como eram chamados em nossa região, que apregoava com um certo tom de humor, para chamar a atenção e, inclusive, divertir o público presente.

Há de se destacar que esses leilões tinham quase sempre como objetivo principal, adquirir recursos para suprir, ou pelo menos amenizar, algumas das necessidades por que passavam determinadas famílias, principalmente no que se refere a tratamentos de saúde. Ou, ainda, com fins religiosos, quando a imagem de um (a) santo (a), conduzida por populares, andava em peregrinação pela comunidade.

Vale lembrar também que, ao promover seus leilões, pessoas necessitadas ou carentes, provenientes de outras localidades mais distantes, sempre vinham pedir ajuda ou auxílio em “jóias”, aqui em nossa comunidade, andando de casa em casa, momento em que aproveitavam para fazer o convite à presença do evento. Vários foram os leilões que tive a oportunidade de assistir por esse interior afora, ao longo do tempo.

Ao terminar o leilão, havia, às vezes, uma festa dançante ao som de radiola/toca-discos ou sanfona, em cuja casa se realizara o leilão.

(*) Edimar Luz é escritor/cronista, poeta, compositor, articulista, memorialista, professor e sociólogo formado em Recife – PE.

Obs. Do meu livro MEMÓRIAS DO TEMPO.

Picos - PI, julho de 1997,

Edimar Luz
Enviado por Edimar Luz em 27/04/2013
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