- Ausência
Nossa separação ainda sobra pela casa. Na escolha de não mais falar com você acabei sem ter com quem conversar, acabei me apegando as sobras do nosso convivio. Vasculho lembranças, abraço a nostalgia, e ainda não consigo esquecer que você foi embora sem oferecer a chance de voltar.
Mentira, você pediu para ficar. Falou que não suportaria se eu partisse de uma vez sem nem ao menos conversar entre o começo da tarde e o raiar do dia.
Mentira, você segurou minhas mãos e silenciosamente pediu que eu não deixasse nossa amizade escapar assim, tão facilmente.
Eu não posso julgar que sua partida não ofereceu recomeço, não posso dizer que você pegou suas malas, saiu pela porta da frente e deixou de dizer adeus. Porque tudo isso é mentira, porque no final das contas, fui eu que decidi que no meu caminho a parte de sua estrada não me pertencia mais.
Nossa separação ainda rasteja nos meus dias. Entre o tédio e o desespero procuro por qualquer palavra que justifique a sua falta, por qualquer desculpa para te trazer de volta. Agora somos inimigos, embora não com ódio, pertencemos a países estrangeiros e uma fronteira se criou entre meus braços e seus abraços.
Você foi embora, e eu não ofereci a chance de nos tornamos o que sempre fomos. Não ofereci novo começo, me resumi a um "Adeus", e agora me arrependo, como quem faz tatuagem por rebeldia mas não alimenta o sentimento do desenho sobre a pele.
Nossa separação ainda sobra na cama. Entre o desespero e a saudade, a fisgada é a mesma, é um vazio resultado da falta da sua presença, é uma conversa pela metade que não existiu. E você nem se quer pediu novamente para ficar.
Mentira, você pediu e eu, num momento de fuga, fiz promessas de uma separação sem reconciliação e sem remorso ou incertezas. Agora, sou eu e essa saudade imensa de querer a chance que você ofereceu, mas que fingi não escutar. Sou eu e esse imenso vazio que nossa separação deixou sobrar.