O incêndio

Como dizer o que penso de mim sem o risco de acertar no meu julgamento e agradar aos que me desagradam? Como ser sincera com o mundo, na parte que me toca, me expondo inteira se o que eu recebo em troca não compensa? Não sei de que maneira conseguirei ser transparente sem me atirar a cova dos leões. Mas sinto a necessidade de dizer: tem um grito preso nas minhas cordas vocais, que quer assumir o erro. É humano esse grito e é reflexo do calar.

Já fui tantas e a cada instante me reinvento. É a forma que encontro de superar a desilusão e meus auto-desenganos. Eu sei que falhei, principalmente por não perceber que tudo ia mal. Dizem que é melhor parar quando ainda se está por cima. Mas a teimosia de achar que eu, de uma forma milagrosa, poderia resolver tudo, sem me esforçar, me fez perder essa oportunidade.

O fogo queimou toda a minha casa e a terra que eu tinha não foi suficiente para encobri-lo. Depois que ele foi embora só restou cinzas e eu carbonizada no meio da sala. Uma reação química irreversível: não se pode transformar o pó que sobrou em um lar, mesmo que ele não fosse físico. Mesmo que ele só fosse um sentimento. Porque ele também se transformou, irreversivelmente.

Stephany Eloy
Enviado por Stephany Eloy em 27/04/2013
Reeditado em 27/04/2013
Código do texto: T4262148
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