Um gringo em minha vida
As fadas sempre realizam três pedidos. Faça mais um, elas lhe atenderão.
 
Venho de uma família humilde de uma pequena cidade do interior. Tenho ascendentes italianos, que trabalhavam de sol a sol na colheita de café das matas de minha terra. Meus pais lutaram a vida inteira para criar os cinco filhos. Todos estudaram, ajudávamos a cuidar da casa e assim crescemos: honestos, simples, muito sensíveis e amigos.

Eu sempre quis um pouco mais. Queria conhecer outras culturas, aprender outros idiomas. Quando eu era adolescente, havia um programa de intercâmbio cultural e eu fui uma das estudantes escolhidas para viver um ano numa escola americana.

Não quero falar sobre isso hoje, mas sim sobre uma pessoa que se sentava do meu lado na aula de música e de espanhol. As pessoas passam pelas nossas vidas e, às vezes, por um milímetro, não nos esbarramos. Por timidez, por preocupações de vida difícil, por ter que tirar notas boas, por não prestarmos atenção um no outro, por pais severos...

Ele era um garoto tímido e não era de falar muito. De família tão humilde como a minha, tinha que trabalhar para ter uma camisa nova ou mesmo ir ao cinema. Ficamos juntos na mesma sala de aula durante um ano inteiro; eu voltei para o meu país e ele seguiu a vida onde estava.

Ambos estudamos um pouco mais, casamos cedo, tivemos filhos e agora netos. Tivemos longos anos de casamento, mas não prosseguimos, lutamos bravamente para sermos felizes, trabalhando muito e esperando que um dia as coisas mudassem e nos dessem emoções nunca sentidas.

Depois do fim do meu longo casamento, a minha maior dificuldade era lidar com a solidão. Eu brigava com ela noite e dia, mantendo-me ocupada o mais que podia: voluntariado, atividades culturais, cinema, fotografia e escrevia muito.

Ambos tentamos outros relacionamentos. Não deu certo, nem para mim, nem para ele. Pessoas erradas em momentos errados, mas nem por isso menos especiais para nós.

Há um ano, numa manhã de sábado, acordei conversando com os meus anjos. Sabia que, como eu sou muito sensível e falo exatamente o que os anjos entendem, eu pedi que colocassem no meu caminho, com a ajuda de Nossa Senhora, minha grande amiga de alma, uma pessoa boa e que me fizesse sorrir de novo.

De tarde, assisti a um filme e fui visitar a página da minha escola no exterior. A primeira pessoa que apareceu foi ele. Não sei o que me aconteceu, mas quando dei por mim, havia enviado uma mensagem para ele.

- Oi, como vai você. Gostaria de escrever um para o outro?

Foi assim que tudo começou. Durante cento e trinta e oito mil mensagens trocadas, fotos de filhos, de netos, de trabalho, de animais de estimação, de briguinhas, ele tomou coragem e deixou a cidade de muita neve na divisa com o Canadá e veio para o Brasil passar 27 dias de férias, em pleno verão.

Ambos já entrando na terceira idade, quarenta e cinco anos depois, passamos a rir de tudo, visitar lugares que nem eu podia imaginar que existiam, ou simplesmente ficar juntos, sem nada dizer.

Ele voltou para sua cidade, trabalhou ainda mais para juntar o que precisava para me visitar de novo. Antecipou aposentadoria, vendeu e deu o que tinha, guardou alguns pertences com os filhos e quatro meses depois voltou para esta ilha que ele adora.

Este gringo é muito mais que tudo de bom. É honesto, sorridente, amigo, terno, engraçado, gosta de tudo que eu gosto. Sabemos que temos ainda um longo caminho pela frente: a dificuldade de aprender o meu idioma, o visto de residente, a alimentação, a cultura, o transito caótico de minha cidade, as amizades que deseja fazer, aprender a andar sozinho, a exigência de cumprir as leis americanas e brasileiras para poder ficar.

De outro lado, ele sabe o quanto é amado. Acho que isso nos basta. O futuro nos dirá por que nos cruzamos, desta vez olhando nos olhos, lamentando (só um pouco) não sermos mais tão jovens, nem por isso menos confiantes de um tempo bom juntos, dure o tempo que Deus nos der.

O que é necessário para viver feliz é simples: partilhar a vida da melhor forma que podemos dar, com respeito, amizade, alegria, sabendo vencer obstáculos e dificuldades juntos.
 
Sábado, 27 de abril de 2013
 
 
 
 A gringo in my life
Fairies always carry three requests. Make another one, they will meet.
 
I come from a humble family in a small country town. I have Italian ancestors who worked from sunrise to sunset in coffee harvesting the forests of my homeland. My parents fought all his life to create the five children. All studied, we helped take care of the house and so we grew up honest, simple, highly sensitive and friends.
I always wanted a little more. I wanted to know other cultures, learning other languages. When I was a teenager, there was a cultural exchange program and I was one of the students chosen to live a year in an American school.
Do not want to talk about this wonderful experience today, but about a person who sat next to me in music and Spanish. People pass through our lives and sometimes by a millimeter, not bumped us. Timidity, by concerns of life difficult by having to take good notes, not to pay attention to each other, for parents severe
Jim was a shy boy and did not talk much. Family as humble as mine, had to work to get a new shirt, or even go to the movies. We were together in the same classroom for an entire year, I returned to my country and he went to where he was living.
Both studied a bit more, got married early, had children and now grandchildren. We had long years of marriage, but do not move forward, fought bravely to be happy, working hard and hoping that one day things changed and give us emotions never felt.
After the end of my long marriage, my greatest difficulty was dealing with loneliness. I fought with her day and night, keeping me busy as I could: volunteering, cultural activities, cinema, photography and writing too.
Both tried other relationships. It did not work, neither for me nor for him. Wrong people at the wrong time, but no less special for us.
A year ago, on a Saturday morning, I woke up talking to my angels. Knew, as I am very sensitive and speak just what the angels understand, I asked them to put in my way, with the help of Holy Mary, my great friend of the soul, a good person and make me smile again.
Of late, watched a movie and went to visit the page of my school abroad. The first person who appeared was it. I do not know what happened to me, but when I found myself, had sent a message to him.
- Hi, how are you. I would write to each other?
That's how it started. During one hundred and thirty-eight thousand messages exchanged, photos of children, grandchildren, work, pets, the bickering, he took courage and left the city a lot of snow on the border with Canada and came to Brazil to spend 27 vacation days in midsummer.
Both now entering the third age, forty-five years later, we started to laugh at everything, visit places that I could not even imagine existed, or just get together without saying anything.
He returned to his city, he worked even harder to piece together what needed to visit me again. He anticipated retirement, sold and gave what had kept some belongings with sons and four months later he returned to this island he loves.
This gringo is much more than all good. It's honest, smiling, friend, tender, funny, likes everything I like. We know that we still have a long road ahead: the difficulty to learn my language, resident visa, food, culture, traffic chaotic in my town, the friendships that you want to do, learning to walk alone, the requirement comply with U.S. laws and Brazilian for staying power.
On the other hand, he knows how much he is loved. I think that is enough. The future will tell us why we cross, this time looking at the eyes, lamenting (only slightly) more not being so young, no less confident of a good time together last time that God gives us.
What is needed to live happy is simple: to share life as best we can give, with respect, friendship, joy, knowing overcome obstacles and difficulties together.
 
Saturday, April 27, 2013