A MOÇA FEIA
Por Carlos Sena


 
Acordei cedo, sob o frio de 14 graus. Desembestada ladeira a baixo ia ele, o Sábado, como que correndo com medo de alguma coisa. Meio congelado parei para observar para onde, afinal, corria tanto o Sábado. De repente passa também pela minha janela a “moça feia”. Aquela que a banda tocava pra ela, lembra? Desvairada, passa a moça toda desgrenhada, sem maquiagem, como se o Sábado fosse seu eterno amor. Imediatamente, sem sequer ver o paradeiro da moça feia, eis que um turbilhão de “águas de março” sucumbe a coitada em pleno mês de abril.
 – Deve ter se afogado, pensei, acerca da coitada que não bastando ser fraca de feição, certamente não devia saber nadar. Teria ela morrido afogada?
Sábado, cuja direção tomada ninguém até hoje sabe, saiu correndo como a música de Alceu: “danado pra Catende”... E agora José? – Será que a festa acabou, a luz se apagou e o dia não veio? Sem resposta, fiquei na porta por entre as águas de março e a cantiga de ninar que discorria na minha imaginação.
De repente uma fresta de sol. Ôba, eis que ele chegou: o sol! Mas o Sábado o ignorou como ignorou a moça feia e a canção de Alceu. Quando, finalmente, o sol se estabeleceu, as águas de março baixaram e... Lá vem ela – a moça feia, toda chorosa, quase nua, meio morta de afogamento, mas lúcida e com força para sibilar, para entoar “estava à toa na vida o meu amor me chamou”... A coitada, além de feia parecia ser burra. Porque seu suposto amor a convidou para ver a banda passar e ela, desligada, desvairada, saiu correndo atrás do Sábado. Grave engano. Coitada, além de feia era loira? – Não dava pra saber, pois seus cabelos eram só lamas deixadas pelas águas de março que tresloucadas também correram atrás do Sábado como se ele fosse delas, em pleno mês de abril. Retou-me, naquela manhã gélida, o consolo do mês de maio - cheio de flores e novos perfunes invaidrão minha janela.