Percepções De Um Mundo
Numa manhã cinzenta de quarta-feira, 09 de novembro de 2011, as 6:20 da manhã eu seguia para o trabalho. Peguei um ônibus frente à minha casa em direção ao metrô Penha. Durante o trajeto, de aproximadamente 11 minutos, eu observava o nada. O meu pensamento divagava sobre coisas que eu nem mesmo sei o quê. Os meus olhos se perdiam no horizonte sem fixar ponto algum, quando, de repente, uma chama amarelo-alaranjada me tirou daquele estado nostálgico que eu me encontrava: era uma fogueira que ardia em baixo do viaduto, em frente a um córrego e uma favela.
Ao lado do fogo que queimava velozmente alguns papelões, encontrava-se uma mulher, que pelas suas características, era uma moradora de rua. Seu aspecto era emagrecido, sua face era triste, sofrida, sua fisionomia encontrava-se abatida e os seus olhos e movimentos expressavam sofrimento, dor, fome... Seus braços iam e viam numa velocidade constante, ora apertavam sua cabeça, ora esfregava suas mãos no rosto, ora balançando-os de um lado para outro. Essa cena não durou mais que 30 segundos. Logo o ônibus virou a esquina e a cena bucólica desapareceu. Mas isso fez-me refletir sobre o rumo que cada um de nós dá a sua própria vida.
Somos livres. Mas nos aprisionamos em conceitos, preconceitos e paradigmas.
Somos saudáveis. Mas maltratamos o nosso corpo com álcool, drogas, alimentação e pensamentos inadequados.
Somos felizes. Mas estamos sempre buscando problemas para nos infelicitar, entristecer. Reclamamos muito e agradecemos pouco...quase nada... ou nada!
Somos perfeitos. Mas sempre enumeramos defeitos, nossos e dos outros.
Somos criaturas. Mas teimamos em querermos ser maior que o Criador.
Somos tanto. Mas não produzimos nada!
Podemos chegar tão longe. Mas nos contentamos com tão pouco. Cansamos no meio do caminho. Desanimamos com o primeiro obstáculo.
De que a vale a vida se ficarmos à margem, esperando ela passar, sem aprender, amadurecer, fazer o bem ao próximo, sorrir , correr, brincar, superar, surpreender, Amar?
De que vale ter passado por essa vida e não ter deixado a sua marca? De que vale ter liberdade e ser um prisioneiro seu? De que vale possuir a pessoa desejada por capricho, se não sabemos amá-la? De que vale ter tanto ouro, se ele está guardado nos cofres?
De que vale a beleza das borboletas, o perfume das flores, o sabor doce do mel, se nos falta a visão para contemplar o belo e o simples, o olfato para sentir o aroma, o paladar para degustar o que é bom?
De que vale a vida, se não sabemos viver? Lara Almeida
São Paulo 09 de novembro de 2011