PLANTÕES E REFLEXÕES

Madrugada... Entre minhas mãos, outra mão. Mão pequenina, magrinha e enrugada, com dedinhos frágeis, pertencentes a alguém igualmente pequenina e frágil. Fragilidade de noventa e quatro anos! No quarto o silêncio é quebrado por sussurros quase inaudíveis, porém ouço um nome com clareza: Carlos Gardel! Sorrio com ternura e me ponho a refletir sobre a efemeridade da vida. Essa menina de noventa e quatro anos, pálida e febril, sonha com seu ídolo. Em seu delírio ri feliz e consegue retornar à juventude perdida, tornando-se novamente bela, jovem e requisitada. Provávelmente dança um tango de Gardel, com um jovem e lindo cavalheiro! Está feliz,bailando, com um futuro lindo pela frente! Lembro-me da heroína Rose ( acho que é esse o nome) do filme Titanic, quando o amado pede-lhe que lute pela vida, para morrer velhinha em uma cama quentinha. As hora passam, o dia amanhece, a medicação fez efeito graças a Deus, e a febre cede. A menina abre os olhos e sorri para mim, um sorriso triste de volta a realidade. Beijo sua testa com carinho, contando-lhe que já está bem, e recebo um aperto em minha mão com outro sorriso resignado. Seu olhar sábio me intimida. As vezes é melhor calar. Assim é a vida. Rápida e fugaz! Amanhã provávelmente, serei eu à murmurar o nome de algum ídolo. Talvez chamarei por Raul Seixas, Renato Russo e tantos outros. Quem sabe dançarei uma música lenta, ou um rock vertiginoso, deitada, velhinha, em uma cama quentinha.

Rosangela Martins
Enviado por Rosangela Martins em 26/04/2013
Reeditado em 26/04/2013
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