- Na próxima estação
Tentei te fazer negação, em todos os nossos divórcios documento algum foi ponto final, nenhum silêncio reparou os insultos, nem mesmo nos permitimos despedidas. Ficamos nessa brincadeira sem graça, de permanecer apoio, de achar que hora ou outra nos toparíamos por aí, por alguma esquina, em alguma garrafa de vinho. Nos perdemos.
Nos perdemos por que não criamos desfecho de história, não criamos travesseiros como repouso, nem mesmo suplicamos abraços. Nos perdemos, por que fomos ignorados pelos próprios braços do acaso, perdemos, e perdemos feio, nem nossas brigas formaram o laço que sempre recorríamos para nos proteger de qualquer chuva.
Gostei de você desde o primeiro momento que te vi, sentado distante, dirigindo o olhar pra qualquer direção ou para direção alguma, tão distante e próximo de mim, que chegava a ser quase impossível te fazer moldura de parede. Gostei mesmo de você, do seu sotaque carregado, como se carregasse toda tua cultura na língua, gostei mais do seu cabelo, meio bagunçado de tão arrumado que era. E teus ombros, desses prefiro nem comentar em palavras, não dá para usá-las em tamanha beleza.
Gostei de você desde os primeiros vinte minutos e meio de conversa, boba, mas uma conversa, atrapalhada, meio bêbada, meio cansada, mas uma conversa. E eu fui gostando, do teu sorriso, que parecia dizer "e aí garota, vamos nos ver depois?' e dos teus olhos distantes, que davam a certeza...'vou partir logo que amanhecer...' Negar você seria pedir que esse calor de agosto, pegasse carona no primeiro suspirar do vento e seguisse rumo a outro lugar, pedir que o verão nos deixasse, pedir que essas férias, deixassem de existir, só assim para não nos esbarrarmos outra vez.
Eu gostei de você, mas não sei me divorciar outra vez, não sei assinar documentos e documentos, porque você não permite declaração, você sempre volta, aponta o dedo na minha cara e diz que quer me abraçar e descobrir mais uma estrela no céu.
Eu não sei me despedir do teu sorriso, hora ou outra eu vou voltar correndo e pedir pra você contar mais uma vez, o que mesmo admirava tão distante e tão próximo a mim.
Não há como divorciar-se de algo que nunca esquecemos.