"Um gesto de ternura e gentileza"
Já é mês de abril e o frio do outono surpreende a capital paulista, anunciando o inverno que não tarda. Segunda feira, dia longo, cansativo, gelado. Acabo de mudar minha rotina e ainda estou me adaptando a estas transformações. Eram 22:00 horas quando saí da faculdade em direção a estação Anhangabaú de metrô, no centro de São Paulo. Para mim, só mais uma noite. Noite fria, fronte cansada e eu só queria chegar em casa, tomar um banho quente e dormir.
Sentada num banco de um vagão qualquer, imersa em meus pensamentos e perdida nas minhas ilusões, estava muito alheia a tudo que estava acontecendo ao meu redor. Engraçado como temos a capacidade de nos absorver completamente de nós mesmos, de nos distrair com a velocidade dos nossos pensamentos sem ao menos perceber o que está acontecendo a nossa volta. Só saí desse estado letárgico que me encontrava quando o “barulho” dos meus pensamentos foi quebrado por um soluço. Olhei à minha volta e só então percebi o quanto o vagão estava lotado.
Do meu lado esquerdo sentava uma moça. Poderia ser uma moça qualquer, mas era a moça que me despertara para o ruído do soluço. Era uma moça negra, magra, bonita, mas triste que, timidamente, rompia-se em lágrimas e soluços. Não estava só, duas amigas a acompanhavam e uma delas estava sentada no bando à nossa frente. A amiga que estava sentada a chamou para junto de si e a moça triste rompeu-se num soluço ainda mais emocionado e dolorido, enquanto suas amigas continuavam a consolá-la.
Vago, logo o lugar ao meu lado fora ocupado por uma mulher que também poderia ser uma mulher qualquer, mas não era. Era uma mulher de meia idade, branca, forte, cabelos aloirados e meio desarrumados, olhar sereno e sorriso tímido. O que a diferencia das outras mulheres presentes naquele metrô, inclusive eu? O gesto!
Sem pronunciar uma única palavra, esta mulher, que poderia continuar imersa em seus pensamentos e preocupações, como a maioria dos passageiros, inclusive eu, abriu delicadamente a sua bolsa, retirou alguns lenços de papel e colocou-os sobre uma das mãos da moça triste que continuava chorando.
Aquele gesto me tocou profundamente. É um gesto simples, singelo e despretensioso. O gesto daquela mulher me encheu de ternura e respeito por ela. Ternura sim. Ternura por ter visto uma desconhecida, assim como grande parte das pessoas que estavam ali, se importar com outro, pôr-se no lugar do outro e agir livre e espontaneamente. Ela poderia ter optado por permanecer inerte, insensível à dor da moça que chorava copiosamente, mas ela não ficou. Ela não se preocupou apenas consigo e com o seu bem estar e, sem falar uma palavra, até por que o momento não pediu uma palavra, o seu gestou falou por si e todos os passageiros que estavam naquele vagão. Um gesto de carinho e compaixão carregado de significados ímpares e de ensinamentos de humanidade e respeito ao próximo.
Quem nunca quis, em determinados momentos da vida, que alguém lhe estendesse à mão e lhe oferecesse um lenço? Quem nunca quis um carinho silencioso e compreensivo num momento difícil? Quem?
Pequenos gestos são carregados de grandes sentimentos. Pratiquemos!